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Pantanal, Casablanca e os mal informados!

Fui mal informado! Achei que a Lei da Gravidade não se aplicava aqui...

Artigo publicado em 24 de julho 2020

Os velhos pantaneiros, buscavam dentro do Pantanal, os tipos de vegetação e pastagens que mais se adaptavam  aos seus  métodos e expectativas na criação de gado, com o tempo cada um adotava a  “sua” região.

Com o passar dos anos e o surgimento da braquiária humidicola, que veio substituir pangolas e o Jaraguá disseminado por Cândido  Rondon,  pode-se praticar uma necessária  e bem vinda substituição de gramíneas, em busca da necessária  viabilidade econômica com sustentabilidade ambiental.

Muitos o fizeram e o sucesso econômico pelo adensamento do rebanho, pricipalmente em substituição ao “furabucho” de áreas mais fracas  refletiu também num aumento da fauna, o que  comprova o acerto dessas medidas.

Fica entretanto o compromisso de não  deixar “macegar” ou retirar o gado desses locais, pois seria um incêndio na certa nessa Estância!

Esse mesmo “excesso” de pastagens ocorre também nas fazendas “baixas” no Pantanal mais úmido  das beiras dos rios, o chamado Pantanal com pulso de inundação, de pastagens naturais extremamente ricas e abundantes.

Quando em período prolongado de seca se não colocar gado, a realidade será sempre vista e sentida num caso e no outro, possibilidade  de incêndios incontroláveis!

De todas as fisionomias de pastagens nativas do Pantanal, as mais disputadas e produtivas seriam os campos de murundus, visíveis na sua forma mais exuberante, nos dois lados da Br 262, após a ponte.

Pastagens naturais compactas, com os murundus sempre coroados por  paratudos ou piuvas pantaneiras, nos solos mais ricos como estes próximos ao Abobral, e também em solos mais pobres no leste do Paiaguás e Nhecolandia!

Não só nessa região, mas em todas as regiões do Pantanal  existem essas formações, não  sendo poucas as fazendas, que tem lá uma invernada especial com campos de murundus, no solo rico de argila ou no areião!

Os verdadeiros pantaneiros sabem de um dos postulados transmitidos oralmente por nossos antepassados sobre murundus: – Murundu é a semente dum Capão!

Portanto senhoras e senhores, deixem os ipês infiltrarem água para o subsolo e darem abrigo pros cupins e formigas, trabalhadores incansáveis em subir a fertilidade do subsolo para a superfície, produzindo feracidade e, eventualmente, acúmulo de  terra para um futuro Capão Alto!

Mas não dizem na boca grande que Deus fechou a fábrica  de terra?

-Não no Pantanal, senhoras e senhores…

-Aqui, se deixarem…

A Divina Providência  ainda produz e cuida da bendita terra, separando-a até da água!

Voando na parte alta do Pantanal, vi essas pastagens de murundu substituídas para adensamento do rebanho, o que convenhamos é uma boa coisa naqueles solos pobres…

Entretanto, os neófitos que adquiriram essas terras tão baratas dos pantaneiros vencidos pelos sucessivos governos pilhadores, buscam a água com as “poclains” nessas novas divisões de mini invernadas, com buracos que eles chamam açudes de centenas de metros de comprimento e dezenas de metros de profundidade…

Outros, na ânsia de realizarem logo o comércio lucrativo dos descrentes, que entra e sai da terra, chegam ao cúmulo de mandar aplainar os murundus, pois acham que fica mais bonito que as flores dos ipês, na hora de vender…

Do ponto de vista do alto, de onde voam os tuiuius para cima, parece uma terra com infestação de varíola, pois mesmo nos lugares onde o pasto fechou, lá estão  marcados, na coloração das braquiárias: os círculos que profetizam seu lugar de descanso, o  círculo dos imediatistas do curto prazo…

O Pantanal não impõe, só expõe!

Para facilitar o entendimento da situação para os não iniciados na cultura pantaneira, lanço  mão da antológica  cena do filme Casablanca,  onde o cínico personagem de Humprey Bogart inquirido sobre o que estava fazendo ali,  respondeu: “vim em busca das águas”, contestado por ser um deserto, reagiu: “fui mal informado”, mostrando como seria esse diálogo hoje no Pantanal:

“Porquê comprastes terras  no Pantanal?

Comprei foi cerrado barato, aqui não é brejo, é seco como um deserto!

Se procurar água desse jeito, periga virar deserto mesmo!

Fui mal informado! Achei que a Lei da Gravidade não se aplicava aqui…

Armando LacerdaPorto São Pedro

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