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Desembaraçando pantaneiros dos antropizadores

Extremamente interessante e com boas premissas este alentado estudo dos raios no Pantanal, como vetores naturais de incêndios versus fogo antropogênico, acabei entendendo o contrário do explicado, já que o delay entre imagens, tanto pode inocentar o fogo antropogênico como incriminar o fogo natural…

Entre a detecção do raio e a propagação do incêndio, os satélites detectam um lapso dilatado, indicativo, no nosso critério empírico, de mais um caso de fogo por fenômeno elétrico, pois existe a possibilidade de um retardo natural.

Indaguei de conhecido cientista, se excesso de vegetação acumulada potencializaria incêndios, e ele resgatou a pantaneira considerada a Rainha da Botânica Brasileira, eis sua resposta:

“É uma interpretação interessante que faz sentido, pois os campos estavam há décadas em equilíbrio com a remoção do excesso de combustível; sem gado, é gerado um grande distúrbio danoso injustamente atribuído a quem conserva o Pantanal.

Quando mostrei uma foto de fogo no caronal num Congresso de Botânica, caíram de pau, mas a pantaneira Dra. Graziela Maciel Barroso me defendeu e concordou comigo mosaicos de áreas com e sem uso controlado de fogo favorece a biodiversidade.”

Indagado ainda , se tais “áreas protegidas” mas em verdade totalmente abandonadas, como em recente caso de multa milionária “por abandono” de área vizinha a parque estadual, confirmou:

“- Há incoerências sobre fogo no Pantanal. Se abandono de fazenda no Pantanal é crime, então os parques e áreas abandonadas do corredor de fogo e inundação tb seriam, pois “o mato toma conta”. O SESC Pantanal é um caso, fui do 1o Conselho e não fui renovado pq eu falei que inevitavelmente haveria incêndio, embora a RPPN tenha o maior aparato de combate (torre de vigilância, estradas, máquinas, carros-pipa etc.).”

Fogo antropogênico , começa por um motivo e num lugar e hora antropogenicamente adequada , todas estas condições são passíveis de serem elucidadas se observadas em campo, com mente aberta….

Acontecimento naturalíssimo no Pantanal principalmente em figueiras, cambarás e piúvas secas, que após o raio ficam gestando o fogo no seu útero e raízes, por isso chamadas “mães do fogo” pelos mais antigos.

A gestação dura o tempo que leva a vegetação seca do entorno a livrar-se da umidade da chuva e então os filhos da mãe do fogo, aguardam o vento seco N, pois ficam escondidos nesse lado mais seco contrário ao S , e aí vão crescer em mil fagulhas e multiplicar-se na massa vegetal novamente tornada combustível de ótima qualidade.

Estamos falando de partes baixas de troncos onde o fogo pode durar, nas entrecascas macias e oleosos cernes, de uma semana ou até mais tempo.

Como as raizes são enterradas e grossas podem reaflorar lá adiante com o baby fire nascendo a muitos metros do tronco, acreditem, até mesmo meses depois, pois alimentados pela mãe do fogo com seu “leite” de óleos essenciais presentes no seu cordão, digo, raiz umbilical.

Achou saída do chão, com vento e sol quente, logo ouvir-se-á o choro do nascer de mais um fogo, absolutamente natural!.

No subsolo turfoso o incêndio é sempre classe B e já pude apreciar o edificante espetáculo da explosão da simples fumacinha branca, aparentemente tão fácil de extinguir, que ao receber água de meios aéreos explodem como napalm!

Com toda a humildade espero que, pelo menos, tenha despertado nos pesquisadores a curiosidade, de vir a campo, no Pantanal, tomar pelo menos uma chuva grossa e quente do Norte no verão e uma garoa Sulina nas frentes de inverno.

Talvez tenham a oportunidade de conhecer o fogo antigo, o fogo amigo, o fogo inimigo, a mãe do fogo, os bebês fogo e também a boca e os quatro pés das vacas e bois bombeiros, tão eficientes quanto vilipendiados na mitigação de incêndios…

Respeitosamente, reafirmamos para a existência de um incêndio antropogênico, necessariamente ocorreu uma modificação na natureza pantaneira, como nos modelos importados de reservas, precisamos urgentemente desembaraçar os pantaneiros dos verdadeiros antropizadores.

Armando Arruda Lacerda
Porto São Pedro

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