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Bioapropriação do conhecimento empírico tradicional…

O lider quilombola Nêgo Bispo, em publicação no Instagram “@rocadequilombo”, defendendo sua cultura faz uma pergunta, depois de acusar a Academia de sistemizar saberes culturais, transformá-los em mercadoria e depois tentar vender aos próprios quilombolas: “-Pra nós pagar, Neném? Como assim?”

Culturas tradicionais costumam sofrer esse tipo de apropriação indevida do conhecimento empírico, aqui no Pantanal chamamos de Bioapropriação, que ocorre quando pegam saberes centenários, fazem um artigo após entrevistas e o vendem como conhecimento científico, após a inserção de alguns dogmas da política ambiental majoritária…

Qual esconderijo para um mal intencionado seria mais adequado do que o meio da multidão que persegue um inocente, correndo assustado após alguém gritar : “- Foi ele que fez isto! Ele é o culpado!”

O jornalista pantaneiro Gabriel Vandoni de Barros, da célebre entrevista com o exilado na Bolívia Luiz Carlos Prestes, deixou-nos um outro legado lavrado em bronze, no Monumento aos Pioneiros do Pantanal, na Fazenda Rodeio:

“- Destes campos, partiu o esforço mais vigoroso e perseverante pelo desenvolvimento da pecuária mato-grossense, e ao surgir a expansão do criatório para o Extremo Norte de Mato Grosso e toda a Região Amazônica, é sobretudo na Nhecolândia que os novos pioneiros vieram encontrar as matrizes, já com alto índice de aprimoramento genético, para a multiplicação do rebanho brasileiro.”

Aqui talvez verificamos a raiz de certa má vontade latente com os pantaneiros, que cultuam ainda o soberbo resumo feito pelo inesquecível Augusto César Proença, nas paredes do Sindicato Rural de Corumbá : “- No Pantanal, passa boi, passa boiada, a natureza fica!”

Assistimos estarrecidos que quando querem demonstrar alguma destruição da natureza, mesmo que seja consequência de algum desastre natural, disseminaram, para quebrar esse contexto benéfico pantaneiro, substituindo-o por pensado aforismo para atrair incautos ou ignorantes urbanos, a mais pura química social venenosa: “- É que passaram a boiada !”

Hora apropriada para reiterar que o pantaneiro reconhece nas araras azuis o animal do Pantanal mais simbiótico com a criação de gado, elas adoram coxos de sal, a maioria absoluta feitos de piuva e não de manduvi, e adoram frutos de palmeiras e árvores que o gado reúne, rumina e regurgita, na condição exata para facilitarem os poderosos bicos na hora da própria alimentação…

São os tais dogmas políticos impostos desde as matrizes no exterior, mesmo oriundos de países que consagram as vacas bombeiras, as cabras bombeiras os ovinos bombeiros, ainda vemos gente discordando, por anti científicos, do combatente mais eficaz de incêndios catastróficos: O boi bombeiro !

Ele come poucas ervas e poucos tipos de capim, afirmam taxativamente, sem cuidar que para comer com sua única boca, ele fareja açúcares e óleos essenciais e ao caminhar incessantemente em busca desses pastos que deseja, incorpora ao frágil terreno a parte da massa vegetal que não consome, com suas quatro patas e oito cascos cortantes e de altíssimo impacto.

Conforme previsto, os onze mil hectares da Fazenda São Roque, reserva ambiental de uma ONG Francesa www.biotope.fr situada no Rio Negro, sem nenhum pé de gado a passear por lá, foi origem de repetidos incêndios nos últimos anos, arde escandalosamente há dois dias seu barril de combustivel gigantesco acumulado desde o último incêndio, sem nenhuma providência própria ou de suas congêneres vizinhas.

Só nos resta repetir o mestre quilombola Nego Bispo : “- Pra nós pagar, Neném? Como assim?”

Armando LacerdaPorto São Pedro

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