ArtigoNotícias

O Tucura Joffreano e a Onça Pintada

Algumas regiões quase ou permanentemente inundadas, tem no retorno do sangue Tucura

O Tucura praticamente desapareceu, mas onde você ver um rebanho adaptado a secas e enchentes, frio e calor, mesmo com toda a aparência do nelore, lá estará, na herança genética a extraordinária adaptabilidade do gado original.

Algumas regiões quase ou permanentemente inundadas, tem no retorno do sangue Tucura, sua melhor chance de voltar a ter produção economicamente viável.

Mas, muito além da adaptabilidade aos extremos climáticos do Pantanal, esse gado, guarda em seus genes e cromossomos, a resiliência aos grandes carnívoros, que neste paraíso de ruminantes, cumprem o dever de topo de cadeia alimentar, obedecendo Darwin e mantendo a seleção natural dos mais aptos…

Conversando com um amigo, que administrou uma das últimas fazendas a criarem o Tucura, fazenda cujo nome virou topônimo dessa raça original, ele muniu- me de interessantes histórias sobre esse gado ” Joffreano”.

Seu capataz, poconeano de pura cepa, que ao nome João, agregou o do sogro conhecido por “Rabichão” virando João do Rabichão,  repassou histórias como a de que os touros Tucuras, matavam os touros zebus e também, de vez em quando as onças pintadas, não sendo raras as vezes que a peleia dava empate com touro e onça encontrados engalfinhados mesmo após a morte.

Indagado o que havia feito com o gado Tucura, ele informou que vendeu touros e novilhas, a alguns criadores tradicionais, que além dos rebanhos de cavalos e ovinos pantaneiros, se interessaram por manter núcleos de conservação desse gado original em suas fazendas pantaneiras.

Informou-me, ainda, que colaborou com a CPAP Embrapa Pantanal, que colheu copioso material genético como sêmen e óvulos, preservados no Cenargem, além de um rebanho significativo de fêmeas e machos, enviados para um núcleo de conservação da raça na Fazenda Nhumirim.

Importante salientar que um estudo comportamental realizado nessa Fazenda Nhumirim, com o rebanho Zebu e o rebanho Tucura, comprovou cientificamente as observações do velho João do Rabichão,  nas mesmas condições o rebanho zebu ignorava os esturros da onça pintada, quando muito olhavam para cima com medo de trovoada e chuva, mas os Tucuras imediatamente se preparavam qual uma falange romana, bezerros no círculo central, vacas compactadas num anel de proteção  e os touros a circularem para enfrentar a “ameaça” .

Será quase impossível a uma pecuária  extensiva, mesmo que nos melhores moldes técnicos, superar os adensamentos das verdadeiras “fábricas” de carne, com muitas cabeças  por hectare e alimentação automatizada ou robótica.

Restará convencer o consumidor, das qualidades intrínsecas  do produto desenvolvido em condições naturais no Pantanal, e seus  benefícios  para a saúde  de quem os consome…

Sabor inigualável proporcionada pelo blended das centenas de ervas, capins e flores do Pantanal, resiliência de um guerreiro (a) vencedor(a) que lutou pela sobrevivência desde o nascimento, saúde transmitida pelo equilíbrio que o consumo desta carne trará ao Pantanal.

Queremos um Pantanal equilibrado, com seus “bombeiros” tucuras resilientes a secas e cheias, e suas onças livres da escravidão e das grades das carcaças de frango congeladas, trocadas por poses para fotógrafos embasbacados, num Pantanal queimado até  sua essência  por uma sustentabilidade de ficção!

No renascimento desta pecuária adaptada, todos livres, homens, feras, bichos e criações, vivendo no máximo de  harmonia possível num paraiso terrestre, o Pantanal reunificado!

Foto: Luiza Lacerda

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo