Diante das cenas que assisto, gostaria começar compartilhando duas pequenas histórias ocorridas no Pantanal.
Advirto entretanto inicialmente, que se houver similaridade com fatos ou personagens passados ou presentes na Mídia, serão mera coincidência!
Quando encerravam-se as atividades agropecuárias com tucuras na Antiga Fazenda Porto Joffre, o responsável, Dr. Luiz Alberto Figueiredo, procurou os órgãos de pesquisas federais para fazerem a manutenção do acervo biológico adaptado dos tucuras joffreanos.
Vários particulares compraram pequenos lotes com vacas e touros, o Cenargen coletou milhares de óvulos e sêmen , e a Embrapa Pantanal, montou um núcleo de Tucuras na Fazenda Nhumirim, na Nhecolândia…
Este núcleo ainda existe, e seus técnicos produziram inúmeras pesquisas, inclusive comprovando a resiliência diante da onça pintada!
Nesse núcleo destacava-se um macho Alfa, e diante do seu apetite pela preservação da espécie, ganhou dos peões o nome de Tabaco, tirado de um personagem de novela vivido pelo artista Osmar Prado, que encarnava o mesmo pendor nas telas.
O Tabaco, depois do lote de fêmeas a ele destinado, varava as cercas e, preservando a espécie, estragou alguns experimentos de cruzamentos ao acessar fêmeas nos outros piquetes.
O produtor Laurindo de Barros, vizinho de cerca, separou um grande lote de novilhas brancas, comprou touros nelore registrados e também cuidava do seu plantel ali perto.
Decorridos os 9 meses regulares, só deu filhos de Tabaco nascendo nos experimentos e pasmem! Em quase metade do plantel do vizinho Laurindo…
Não havia cerca no mundo que detivesse o joffreano Tabaco em sua determinação de preservar a sua espécie, esparramando seus gens para todas as fêmeas disponíveis, que certamente viam nele um parceiro ideal!
Sem saber como deter a libido do Tabaco, desguaritáramo-nos para a Embrapa Gado de Corte em Campo Grande, dotada de um piquete de segurança máxima, de impossível fuga.
Nosso tucura com jeito de Houdini, entretanto, conseguiu lograr a tudo e todos, e se dedicou com muito afinco, em estragar num feriado, todos os experimentos de cruzamento do local…
Depois das aventuras desse glorioso final de semana, o que fazer do Tabaco? Optaram por vasectomizá-lo e ele ficou até sua morte no doce ofício de detectar fêmeas no cio e prepará-las para inseminação…
Outro caso mais recente e emblemático é da onça pintada chamada Ousado, que ganhou esse nome ao se expor ousadamente para as câmeras fotográficas de turistas nos arredores do Porto Jofre…
Não havia nenhum tipo de cerca, mas alguma coisa muito maior que o instinto de sobrevivência deve ter contribuído, para um animal em liberdade, ser mantido como que acorrentado àquela paisagem em chamas!
Feriu-se nas patas, e encontra-se em tratamento especializado em ONG que necessita de doações para custear o tratamento com células tronco e também alimentá-la com seu velho prato favorito: coxas e sobrecoxas de frango…
Estão preocupados para onde reintroduzi-la…Me parece óbvio que, diante de tamanha manifestação de apego a um lugar, como o demonstrado por Ousado, ele deve ser solto onde sabe como conseguir alimento!
Dois comportamentos de preservação da espécie claramente demonstrados, um rompendo cercas e outro no sentido contrário, se deixando cercar, mesmo pelo fogo!
Serve talvez de advertência que um animal, se for ilegalmente alimentado num lugar, ali permanecerá correndo todos os riscos.
Ainda bem que a lei proíbe a ceva, principalmente em beira de estradas e os que assim estão procedendo devem estar cercando os animais de todos os cuidados necessários.
Sei que as pessoas estão ansiosas para doar e colaborar mas, devemos atentar que se o incêndio pode acabar logo, os caminhões e carros seguirão sendo um risco permanente aos animais, dia e noite!
E os animais, serão risco permanente para os humanos motorizados!
Isso não é um mito, como não o é a megafauna do Pantanal, nem o Boi Bombeiro, com trabalhos de pesquisa corroborando essas verdades científicas.
Desconfio que, após uma perícia séria , não haverá mito em pé depois destes 40 anos de erros e enganos dos “especialistas” ambientais, embora o fogo purifique seus colossais acúmulos indevidos de materiais combustíveis, seguem insistindo nas mesmas velhas mentiras.
Agenda externa, narrativa imposta, lavagem verde, sinalização de virtude, paz verde, por mais boas intenções e virtudes que aparentem , foram peças imprescindíveis no inferno que presenciamos hoje.
Os pantaneiros não dominam todo o Pantanal, mas sabem quem domina, pelo conhecimento, cada centímetro da região, não foram e continuam sendo pouco escutados, embora continuem dispostos a colaborar se necessário.
Fotos de satélite sem trabalho de campo, ou conhecimento prático do chão, machucam e não produzem bons frutos, para equacionar isso podem chamar os pantaneiros!
Cada canto do Pantanal, tem sempre um prático que o conhece em detalhe, eles atenderão sem hesitação, pois estão preocupados com a possibilidade de ainda ocorrer alguma tragédia irreversível com quem tenta ajudar!
Pantanal não impõe, só expõe!
Armando LacerdaPorto São Pedro