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Ratos e urubus, larguem nossas fantasias!

Se na fartura de águas e peixes, já deu chabu, imagine na miséria da seca!

Uma das maiores frustações nos meus anos de Porto São Pedro, foi não ter conseguido convencer os barcos de turismo de Corumbá a evitar “limpar” peixes na traseira dos barcos, jogando “pocas” e barrigadas na água!

Estes detritos atraem piranhas, espantam os cardumes e causam evidente prejuízo na continuidade da pesca, ao contaminar o local.

A sábia  natureza reaje de pronto! Convoca os faxineiros oficiais do Pantanal, urubus e cracarás para seguirem e limparem os resíduos  da matança , assim como faziam com os coureiros e fazem com a onça.

Ocorre que nos barcos de turismo,  há  o agravante dos detritos terem horas certas, de manhã enquanto os turistas curtem o luxuoso café da manhã,  Continental ou Colonial, os piloteiros dispensam grande quantidade de tuviras e caranguejos mortos nos tanques de iscas vivas ou esquecidos nos baldes individuais.

Urubus e cracarás aproveitam para exercitar-se na natação matutina,  necessária a tirar da água e apreciar o lauto desjejum nas árvores próximas…

A partir do meio da  manhã derrubados pelo sol ou pelas libações, começam a retornar os pescadores, trazendo toda sorte de peixes  mortos, é hora do farto almoço servido ao comprido da correnteza.

Urubus,cracarás e  pantaneiros lembram Joãozinho  Trinta reagindo contra a tutela do poder econômico  no Carnaval,  rasgam suas fantasias e promovem acrobacias e coreografias aéreas as mais sofisticadas em  evoluções no ar, na água e nas árvores!

É um deleite de Coliseu romano, distração sangrenta para acompanhar os sofisticados drinks e bebidas variadas, com música no último  volume, no bar e piscinas da cobertura!

Desde esse pavilhão imperial revela-se a sentença!

Se as cenas de vísceras sangrentas e lutas entre animais satisfez a todos, polegares em positivo na hora da sentença:  -o Pantanal só  vale a pena neste barco,  vamos  voltar no ano que vem!

À tarde, repete-se a cena, normalmente com muitos comensais já satisfeitos, o jantar é  servido para poucas aves ainda  esfomeadas, sob o protesto das piranhas e pirambevas, mais assanhadas à noite!

Mas aí chega a Piracema  ou defeso e cessa abruptamente o faustoso delivery de comida!

Os urubus e cracarás vão então  para as praias e de pescadores viram caçadores de ovos e filhotes das aves migradoras que usavam, desde sempre, as praias do  Pantanal, na vazante, como berçário.

Como observador de pássaros assisti ao empobrecimento e mudança  das rotas migratórias de várias  espécies, a natureza sempre cobrará no futuro o desperdício de hoje.

O menino que gostava de  coisas voadoras  sejam aves ou aviões,  quebrava o pescoço o dia inteiro acompanhando descida e subida de aviões, pequenos e grandes, no aeroporto de Corumbá,  o mais movimentado do Brasil!

Nosso aeroporto ficava “Fechado” por três  motivos: Chuvas,  bruma seca ou fumaça e pasmem!

Pássaros  migratórios  usando pátio e pistas como poleiro para passarem a noite.

Assim como os aviões nas movimentadas aerovias superiores, ininterruptas no sentido Norte  Sul e Leste Oeste, ignoram  o aeroporto mais deserto do Brasil, as aves também passam ao largo evitando pousar por aqui.

O aeroporto sem aviões e aves  é um monumento que se faz a uma politica de cotas e medidas, que teve sucesso há trinta anos.

Os políticos e  burocratas que os assessoram, levantaram tal monumento  em concreto ostentatório , onde a omissão, a incompetência e o.medo da inovação  e riscos inerentes a mudanças,  foram os principais componentes.

Qual o problema de colocar o peixe capturado em hipotermia, matando-o lentamente no gelo após a captura, onde ele mesmo se autolimpa,  depois colocá-lo na câmara  fria e trazê-lo inteiro para ser manipulado profissionalmente no Frigorifico da colônia de Pesca, com aproveitamento de todos os subprodutos valiosíssimos?

Como se faz em todo o mundo civilizado!

Aí não  teria correria e os apreciadores modernos dos gladiadores alados, levariam peixes já limpos e prontos para consumo, em embalagens menores, fazendo a tristeza dos que  herdam quando a patroa estressa com o jeitão sonso do aventureiro e a  fedentina dos isopores cheios.

Impossível  ainda, a burocracia abrir mãos de portarias, licenças, carimbos e lacres, zona de conforto ilusório impregnando-os da certeza de que são heróis  protegendo o Pantanal,  que solenemete ignoram atendendo tão somente os apelos do poder econômico.

A realidade nua e crua e o estágio visível desse modo de agir, grita ao mundo por socorro,   na dramática  situação atual dos pantaneiros e do Pantanal.

Se na enchente com fartura de água  e peixes, já fizeram tal lambança, imagine agora na seca…

O Pantanal não impõe, só expõe.

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

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