BrasilNotícias

A ameaça invisível no campo: a doença silenciosa que afeta trabalhadores rurais

Doença fúngica conhecida como ‘paracoco’ afeta principalmente agricultores em contato com o solo e pode permanecer assintomática por anos

A Paracoccidioidomicose (PCM), popularmente chamada de “paracoco”, é uma doença fúngica infecciosa que representa uma grave ameaça à saúde dos trabalhadores rurais no Brasil. Transmitida pela inalação de esporos presentes no solo, essa enfermidade pode atingir diferentes órgãos do corpo humano, como pulmões, pele, linfonodos, ossos, sistema nervoso central e até órgãos genitais.

O desafio do diagnóstico precoce

O maior obstáculo no combate à Paracoccidioidomicose é seu caráter silencioso. Muitas vezes, a doença se desenvolve de forma assintomática durante anos, o que dificulta a identificação precoce e aumenta os riscos de complicações severas. A contaminação costuma ocorrer quando agricultores inalam esporos do fungo ao realizarem atividades ligadas ao cultivo da terra, o que torna essa população particularmente exposta.

Estados com notificação compulsória

O estado do Mato Grosso está entre os seis únicos do país que adotaram a notificação compulsória dos casos de PCM. Com essa medida, posiciona-se na linha de frente do enfrentamento da doença, assegurando que os pacientes tenham acesso ao tratamento gratuito através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além do Mato Grosso, os estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rondônia e São Paulo (desde abril de 2024) também passaram a comunicar oficialmente ao Ministério da Saúde os casos confirmados da doença. Essa ação é vital, uma vez que o tratamento da Paracoccidioidomicose possui custo elevado e exige medicação específica.

Projeto pioneiro da UFMT

A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sob coordenação da pesquisadora Rosane Hahn, lidera um projeto inovador focado no diagnóstico precoce da PCM entre agricultores familiares. Doutora e mestre na temática, Hahn destaca:

“O tratamento não é barato. Com as notificações sendo registradas, acionamos o Ministério da Saúde para oferecer medicamento gratuito ao trabalhador rural”.

O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (Fapemat) e com apoio da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf-MT), atua em nove municípios da Baixada Cuiabana: Cuiabá, Várzea Grande, Chapada dos Guimarães, Santo Antônio do Leverger, Nossa Senhora do Livramento, Jangada, Acorizal, Barão de Melgaço e Poconé.

Ação direta nas comunidades rurais

A pesquisa tem como meta examinar 500 agricultores familiares, dos quais 260 já foram testados. As ações incluem palestras educativas sobre prevenção, além da coleta de sangue para detectar anticorpos contra o fungo, o que possibilita o diagnóstico mesmo em indivíduos sem sintomas.

Em ações recentes, 20 trabalhadores da Associação de Agricultura Familiar da Mineira, no distrito de Aguaçu (Cuiabá), e 40 da Associação de Produtores da Gleba Resistência, em Santo Antônio do Leverger, participaram da coleta.

A presidente da associação local, Alessandra Carneiro de Souza, descreveu:

“Nunca havia ouvido falar sobre a doença. Fiquei assustada com o que ela pode causar. Nossa comunidade foi conscientizada sobre prevenção com o uso de máscara e o tratamento”.

Referência estadual no tratamento

O Hospital Universitário Júlio Müller, localizado em Cuiabá, atua como centro de referência estadual para o atendimento dos casos confirmados de PCM. Agricultores diagnosticados são encaminhados diretamente ao hospital, sem a necessidade de passar por filas ou trâmites burocráticos, o que agiliza significativamente o início do tratamento.

A pesquisa conduzida pela UFMT deve ser concluída em setembro e os dados coletados embasarão um artigo científico com reconhecimento internacional, contribuindo para o avanço no conhecimento sobre essa doença negligenciada.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo