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NEFAU e o momento propício e local adequado no Pantanal

No emaranhado de siglas que o pantaneiro passou a conviver, ele busca alinhar com aquelas que trazem em si, o respeito verdadeiro pelo conhecimento dos saberes empíricos, decodificando-os quando possível, em conclusões científicas.

Dentre todas estas conclusões, avulta aquela de que se chover enche, levada a extremos nesta época de mudanças, pois a chuva no planalto não se infiltra mais e escorre rápida e desembestada até pela assoreada planície, onde também se espalha e, rapidamente, tudo fica seco de rachar (e queimar).

Pantaneiro acompanha as conclusões do tal PELD que há algum tempo nasceu como Programa de Estudos Ecológicos de Longa Duração, com evidente satisfação, certo de que fatalmente convergiriam e estariam alinhadas com seu multi secular aprendizado, evoluído na busca de sempre tentar evitar repetição de erros .

Erros causam sofrimentos , que perduram até se compreender os sutis avisos que a própria natureza inconstante e imprevisivel envia… A direção da porta do ninho do massa barro, o aparecimento de bichos do seco como perdizes, tamanduás, emas e tatus aventurando-se em áreas antes de domínio de bichos mais afeitos à umidade e às águas.

Assim, também acompanhamos a evolução dessas siglas, que certamente, após muita amolação chegaram ao Nefau ou Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas.

Dentre as mudanças da modernidade, vimos claramente a “subida” do corredor do fogo, modelador da vegetação do Tramo Sul do Rio Paraguai, para o Tramo Norte até então chamado de corredor azul, acima de Corumbá até Cáceres, com um ramal acompanhando os Rios São Lourenço e Cuiabá e o sistema dos afluentes na foz dos rios Aquidauana e Miranda.

Evidente que se deveria auditar tecnicamente a causa pontual dessas “mudanças”, já que a observação empírica concluiu desde algum tempo, que se deve à moda importada de Unidades de Conservação que, sem medidas mitigadoras, plano de manejo ou EIA RIMA, produziram centenas de quilômetros acumulados de material vegetal altamente combustível, que rapidamentente se decompõe em turfa com alto teor de óleos essenciais.

Basta somente uma ignição inesperada para ocorrer, em vez do fogo amigo modelador da paisagem, o incêndio devastador que incinera as piúvas, cambarás, tarumãs, acaiás, cabaceiras, abobreiras, canafistulas, jenipapos, morcegueiros, ingás, roncadores, canelas e bigueiros, verdes e em pleno vigor…

Até os variados tipos de tucuns, pombeiros, pateiros, pimenteiras e sardinheiras, quando incineradas nesses incêndios, deixarão de alimentar peixes, aves e outros bichos do Pantanal…

Diante desse quadro, o que nos reserva o futuro?

Podemos continuar a sonhar que as reservas legais obrigatórias, as reservas legais voluntárias para formação de cotas, as savanas e campos úmidos das fazendas que mantiverem tal vegetação nativa sem substituição, poderão se transformar em OMECs ou Outros Modelos Espaciais de Conservação ?

Em vez da pesada e esdrúxula tributação por improdutividade, mercê de uma Legislação de ITR altamente expropiadora, , poderão manter sua pecuária sem adensamento, auxiliados na rentabidade pelo recebimento das Compensações devidas por Cotas, Créditos de Carbono e Prestação de Serviços Ambientais…

O Planalto pagar o prejuízo econômico que já causou à ³Planície, já calculado pela CPAP Embrapa, também poderia ser incluído num item específico para o ITR do Planalto, talvez um valor chamado VRP, em vez de valor de terra nua, um Valor para Recuperação da Planície.

Neste próximo encontro do NEFAU, nós pantaneiros, confiamos que os estudos da UFMS, somados às conclusões dos pesquisadores do CPAP Embrapa Pantanal e aos conhecimentos práticos incorporados pelo Corpo de Bombeiros Militar do MS, poderão concluir pela primazia do manejo arquétipo do fogo do Pantanal, com a queima preventiva tradicional “de bola” ou “de roda”, sempre considerando as condicionantes de momento propício e local adequado, talvez tardia, mas merecida aprovação a ser conquistada mercê de sua sustentabilidade.

Armando Arruda Lacerda Porto São Pedro

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