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Marco do Jauru – Tapagem e dragagem: Maraboho

A Escola de Sagres e a Universidade de Coimbra foram as bases das grandes navegações e da geopolítica que abriu aos europeus os grandes horizontes dos oceanos, sempre um capitão português, a ler nas estrelas e no sol, as rotas seguras de todos os mares do Planeta.

Aqui na América, com os espanhóis concentrados nos saques da abundante prata dos povos andinos, restou aos portugueses e paulistas desbravarem as franjas desse Império…

Aleixo Garcia e a epopéia que o conduziu da Ilha de Santa Catarina, alcançando o médio rio Paraguai, deixando a tribo dos Chanés a meio caminho, foi a Potosi e voltou carregado de Prata.

Emboscado na volta, no rio M’botetei, pois seus seguranças da tribo Chané optaram por ficar junto aos abundantes peixes da Baía do Chané, foi morto e aliviado da Prata que trazia.

Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, optou por seguir o seu caminho por terra, anos depois, e reencontrou os Chanés ainda se divertindo com os dourados do Morro dos Dourados, fundou Puerto de Los Reyes, foi até a foz do Jauru e só retornou a Asunción , derrotado pelos mosquitos e os beripoconés senhores absolutos do hoje Rio Cuiabá.

Contrariando suas ordens, Ñuflo de Chavez virou para poente na foz do Jauru e foi fundar Santa Cruz de la Sierra, deixando a história do ouro das minas de Cuiabá, situadas ao Nascente como previa Cabeza de Vaca, para paulistas, portugueses, brasileiros e…Pantaneiros!

Era Espanha mas como previsto virou Portugal e dois séculos depois a foz do Rio Jauru abrigava o Marco do Jauru, talhado em pedra, previsto no Tratado de Madri, com as Armas da Espanha ao Poente e Armas de Portugal ao Nascente, hoje abrigado na Praça principal de Cáceres…

Este humilde bosquejo histórico foi necessário para chegarmos ao Século XIX, quando a invasão paraguaia, veio em busca do tal marco para levá-lo como presa a Assunção em busca do revisionismo e apagar a História pretérita…

Aí, guiados pelos índios foram os paraguaios detidos pela tapagem! O Rio Paraguai, em certo trecho, sofria acúmulo dos hoje chamados balseiros e naquele portunhol arcaico denominavam-se tapagem.

Degolados os índios guias que talvez propositalmente não conseguiram encontrar o caminho para transpor o obstáculo, retornaram os paraguaios a Corumbá, derrotados pela tal tapagem…

Foto: Marco do Jauru

Além do Marco do Jauru, o grande monumento em Cáceres, que homenageia os mártires índios guias, e ainda as invencíveis muralhas de proteção flutuantes do Rio Paraguai, mercê das acuradas informações de seus capitães que determinavam a geopolítica colonial portuguesa, eis a monumental e universal história que a Rua da Tapagem, em Cáceres MT contém, dentro de sua humilde singeleza!

Neste 2021, segue a tal tapagem, agora sofrendo dragagens desde algumas décadas para restabelecer a navegabilidade do Rio Paraguai até Cáceres, a cargo agora do Dnit.

Por injunções jurídico-ambientais tais dragagens só são permitidas jogando-se o material dragado, de montante para juzante do ponto obstruído, dentro da corrente, com o desígnio óbvio de, gastando-se muito dinheiro, desgastar o Governo pela impossibilidade de se obter qualquer resultado prático .

Hora de reintroduzirmos uma nova palavra no vocabulário dos órgãos governamentais: Maraboho, palavra no idioma Guató que significa Capão de Aterro ou Aterro de Índio.

Quando em 1974 vieram as enchentes, muita gente vivia às margens do Rio Paraguai, a maioria com pequenas criações de gado e pequenos animais, próximo a Corumbá extendia-se imensa agrovila de leiterias e agricultores.

Tudo foi a pique, houve um imenso êxodo rural, inchando as cidades, explodindo suas periferias, fenômeno extensamente estudado nos cursos de Geografia, porque haviam sobrado, no velho rio, só pequenos trechos secos.

Sobreviveram e salvaram gente e bichos, sem perder um grão de areia, os aterros feitos pelo DNOS, espalhados por todo o Pantanal, algumas áreas mais altas e algumas famílias extremamente resilientes.

Estes aterros do DNOS eram oriundos do Prodepan-Programa de Desenvolvimento do Pantanal e copiavam os Maraboho, os capões de aterro dos índios, ainda hoje espalhados por todo o Pantanal e por toda a extensão do Rio Paraguai e afluentes…

Porque não retirar essa areia e fazer um pequeno Maraboho ao redor das casas de cada resiliente morador, com certeza ajudaria o Rio Paraguai a se livrar de um assustador assoreamento e contribuiria na perenidade das casas e até na manutenção, numa eventual enchente, da pequena criação do morador…

Tirar de montante e jogar a juzante é um atestado de pouca percepção dos fatos, induzidos por manipulação e concupiscentes interesses alheios a qualquer manutenção viável da Hidrovia Paraguai Paraná.

Sigamos os caminhos milenares das várias civilizações que por aqui passaram e não dos interesses estranhos de quem chegou agora e quer parasitar e destruir
com propósitos disfarçados de filantrópicos ou científicos , a cultura que construiu, tradicionalmente, o Pantanal que ao mundo encanta!

Fiquem encantados, mas não tentem nos enganar com décadas de falsas alegações importadas de proteção, que comprovadamente, até o momento, se revelaram inadequadas e destrutivas para a sustentabilidade do Pantanal!

Armando LacerdaPorto São Pedro

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