Naqueles anos de seca, lembro-me de Chô Malaquias, que morava na casa mais afastada da sede da fazenda, junto a um figueirão, com sua esposa dona Maria.
Eu era frequentador assíduo, pois ele carregava cartuchos de uma velha 36, que eu usava para caçar patos.
Era muito dificil pois eu tinha que me aproximar muito do alvo, e confesso que apesar do esforço, fui um caçador muito infeliz…
Todas as noites lá vinha o velho casal até a sede, pois se rezava o terço diariamente para pedir chuva!
Quando terminava essa liturgia, outra se iniciava quando sentávamos na varanda.
MInha mãe perguntava: “-Chô Malaquias, o que está marcando o céu para amanhã?”
Chô Malaquias, com muita seriedade, caminhava até a escuridão, percustrava as estrelas, e examinava demoradamente a lua, e nos dava a previsão para o dia seguinte…
Tais previsões eram sempre otimistas, e me lembro dele me mostrar como a lua tinha a inclinação certa para indicar se ia derramar ou não uma possível água contida.
A estrela da boca da noite ou estrelão, na realidade o planeta Vênus, a estrela vermelha, Marte, o sete estrelo, as três marias , a fase da lua, ele lia o céu e ia repassando as informações.
Agregava ainda as importantes condições do pôr do sol, cujas cores e texturas indicavam calor, ventos ou as ansiadas chuvas.
O curioso era que tirando a renovada esperança otimista de chuva pra dali 2 ou três dias, ele acertava sobre ventos, calor maior ou menor devido a direção deles, sol mais a pino, maior ou menor cobertura de nuvens.
Grande Chô Malaquias, como fazem falta suas previsões sempre temperadas com a dose certa de otimismo…
Menino ficou velho, mas continua a olhar o céu no entardecer, continua a acordar de noite e procurar o estrelão, companheira que iluminava tantas viagens a cavalo, carro de boi ou barco, para tentar a voltar a ser otimista e esperançoso quanto ao amanhã.
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro