Nos idos de 1968, em Paris, todos os muros foram pichados com os dizeres “- Il est interdit d’interdire” que logo Caetano Veloso reproduziu, cantando: “- E eu digo “não”. E eu digo não ao “não”. Eu digo é proibido proibir. É proibido proibir.”
É interessante que, quando o Pantanal surgiu deslumbrando os olhos do mundo como um Paraíso, imediatamente muitos se arvoraram em arrogantes censores, impositores de proibições, que julgavam necessárias para poderem usurpar, em proveito próprio, tão magnífica criação coletiva daquelas populações que ali viviam.
No Pantanal, logo depois da criação do MS, ocultos patrocinadores produziram faustosa campanha para proibirem a plantação de cana de açúcar, que diziam ameaçar destruir inteiramente todo o Pantanal.
Nas safras de 1936 a 1937 , o Instituto Brasileiro do Açúcar e do Álcool, citado por Virgílio Correia Filho nós dá conta das expressivas toneladas de açúcar, álcool e aguardente produzidas nas Usinas do Pantanal que sucederam os engenhos coloniais, como no Rio Cuiabá e afluentes, as poderosas Usinas Aricá, Conceição, Santa Fé, São Gonçalo, São Miguel com a fabulosa Usina Itaici rebatizada como Usina São Benedito, as Usinas Flexas e Ressaca no Rio Paraguai, em Cáceres e Usina Santo Antônio no Rio Miranda, em Miranda.
As maliciosas mentiras levou-os até a revogar conceitos da Geografia sobre Bacias e Subbacias, no intuito do lucro político de liderar a proibição de uma plantação de subsistência de tradicionais manufaturas famíliares, pois da cana fabricavam-se cobiçados produtos regionais como vinagre, melado, rapadura e açúcar de barro.
Se foi possível tal monstruosidade com a histórica cana, fingem não perceber quanto ao feijão soja exigir máquinas de plantio e colheita impossíveis de adentrarem nos solos da Planície pantaneira.
Paradoxalmente o mesmo argumento que serve para proibir, serve para liberar caso haja interesse comercial , proibiu-se aleatoriamente no Pantanal a prática mundial da reposição de alevinos, agora que tal dolosa aberração esgotaram os estoques pesqueiros nos rios e lagos de uso comum, vão liberar emergencialmente as invasões de predadores humanos atrás de um peixe que cuida amorosamente dos filhotes, que só frequenta águas limpas das fazendas nos corixos e baías, todas cadastradas como APPs ou reserva legal…
Em outro simplório Despacho Burocrático ressuscitaram também prescritos pareceres só por serem apocalípticos, proibindo subrepticiamente, a plantação de algodão nos Municípios Pantaneiros que nominaram.
A desculpa é que, sem tal proibição, poderia ser gerada mutação genética nas inúmeras espécies de algodão nativos, ainda manipulados, cardados e fiados em singelos instrumentos tradicionais, por humildes artesões do Pantanal.
Caso levada a sério e prospere tal estúpida intervenção nas atribuições estaduais, a corvina e o tucunaré, juntar-se-ão à cana, feijões e algodão possivelmente já preliberam novas oportunidades de lacrar e lucrar considerando abundantes espécies nativas de arroz e mandiocas.
Os pantaneiros que esperavam justa Compensações por limpeza das águas das poluições urbanas e do agronegócio serrano por Prestação de Serviço Ambientais, agora surpresos, serão obrigados a suportar mais um desastre ambiental, prêmio incompreensível aos responsáveis pela destruição de nossos rios.
Senhores poderosos e empoderados Analistas Ambientais Federais, quando interferirem no Pantanal, consultem quem habita este local, e que por não serem dependentes de interesseiras vinculações econômicas, são imunes às armadilhas encomendadas a manipuladores de imagens de satélite, que sem um exaustivo trabalho de campo, não passam de almanaque de horoscopia fajuta.
Os pantaneiros oram fervorosamente, implorando aos Céus que iluminem aos que comandam a jurisdição Estadual sobre as águas internas do Pantanal, para que equilibrem o jogo e suspendam esta programada execução por horda de ávidos carrascos, montados em destruidoras lanchas de alta potência.
Os pantaneiros deploram a ousadia de substituir sua cultura que exalta a vida, por irreversível culto da morte.
O Pantanal nunca impõe, só expõe, acrescentando que a natureza não compactua com a impunidade e responderá com a contumaz contundência a estas manifestações de arrogante prepotência, que só a hipocrisia de multinacionais hidroelétricas ousariam patrocinar.
Armando LacerdaPorto São Pedro