Helen Trefzger Ballock que hoje é técnica de aprendizagem da SED (Secretaria de Estado de Educação) teve uma trajetória de muitas lutas e dificuldades, até conquistar um lugar no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. Ela foi a primeira surda de Mato Grosso do Sul a se formar em pedagogia.
Nada foi fácil na vida da professora. Ela nasceu surda, filha de pais ouvintes, e desde muito nova precisou ser resiliente. Quando começou a ser alfabetizada ainda não existia a Lei da Libras (Lei nº 10.436 – 24/04/2002) e, segundo ela, “as escolas não tinham estrutura para atender crianças surdas e os métodos de ensino não eram eficazes”. Helen, filha de pedagoga, teve na mãe a principal aliada na luta pelos direitos de aprender.
Ainda de acordo com Helen, seu processo de aprendizagem foi muito tumultuado. Ela chegou inclusive a reprovar, mas por persistência dela e da mãe, se manteve firme e cobrava dos professores que o atendimento em sinais fosse feito na escola.
“Minha mãe lutava por mim e também por outras crianças surdas. Ela foi minha intérprete na escola, se voluntariou e buscou melhorar minha qualidade de ensino”, diz Hellen.
Helen conta que sua mãe foi sua principal incentivadora a estudar. “Ela dizia, meu Deus! Minha filha surda, como vai fazer para arrumar um emprego? Precisa estudar”. Graças ao incentivo da mãe, Hellen fez prova de vários concursos e passou para assistente administrativo na área da Educação.
Ao contar sua história, Hellen sempre relembra como foi o período escolar. Ela relata que, na época, as professoras tinham dificuldade no atendimento ao estudante surdo. Para acompanhar os demais, era necessário copiar muitos conteúdos e a dedicação foi preponderante. A professora reforçou, ainda, que a mãe foi fundamental em todo o processo, presente na escola até como intérprete voluntária. Iniciativa que também beneficiou outras crianças.
Virada de chave
Antes de prestar vestibular para Pedagogia, Helen tinha o sonho de cursar Medicina Veterinária, mas por conta da surdez, ela não foi aceita no curso. “Eu amo os animais, meu sonho era ser veterinária, mas minha mãe me incentivou e me disse para eu adiar esse sonho, então eu comecei a fazer Pedagogia”, conta.
Protagonista na área, em 2004 ela se formou e, diante da necessidade de uma profissional surda no local onde já atuava, pediu exoneração do concurso administrativo e assumiu a função de professora no CAS (Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez).
Helen não parou por aí. Envolvida com o trabalho do Centro, ela se colocou como uma “multiplicadora” da Libras e também buscou ampliar os horizontes com outra formação, desta vez com uma faculdade de Letras/Libras. Hoje ela atua como Técnica do CAS no NAAD (Núcleo de Avaliação e Acompanhamento Didático).
Na atual função, Helen é responsável pelo atendimento de 125 estudantes surdos em todo o Estado, que recebem o acompanhamento dos intérpretes/tradutores. Além disso, a professora também coordena o trabalho de outros 105 profissionais, que exercem a função de apoio pedagógico especializado para estudantes surdos.
Mulher, professora e mãe
Há pouco mais de um ano, Helen enfrenta mais um desafio como mulher: desta vez no papel de mãe, com a chegada da filha Hilary, que é “Coda”, nome dado aos filhos ouvintes de pais surdos.
Com a novidade, a professora segue se adaptando ao mundo da maternidade. Orgulhosa e emocionada, ela conta que a filha, de um ano e meio, já sabe 11 sinais em Libras e sete palavras em português.
“Minha filha faz o sinal de cachorro e ela também fala a palavra ‘au-au’ se referindo ao cachorro. Ela vai crescer sabendo os dois idiomas e vai ser uma agente multiplicadora da Libras, como eu fui”, finaliza Helen.
Jackeline Oliveira, Comunicação SED
Fotos: Ricardo Agra/SED