Cada um escolhe a filosofia de vida que mais lhe agrade, de minha parte entendo que o verso com maior completude de nosso poeta Manoel de Barros, seja esta síntese que colocou na boca de um morador da Manga do Barão, ou Porto da Manga, chamado Nhô Pocito : “-Bão é pão, chão e vão.”
Magnífico resumo, moda hai cai oriental, de todas as coisas que o homem deve procurar em sua vida, do pão que alimenta corpo e espírito, ao chão a que ele pertence e o vão, onde se atribui a importância devida da sensualidade inerente à preservação da espécie.
O pão, ah o pão! Ele nos remete de imediato a quem faz crescer o pasto para o gado, as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar as bebidas que alegram o coração, azeites e gorduras que fazem brilhar o rosto e o pão dos cerais e polvilho que o alimenta.
O chão todos acham que devem conquistá-lo, mas enganam-se os que vivem nas torres de Babel horizontais ou verticais, sempre notavelmente destituídos de raízes permanentes com a terra, simples suporte de sua vaidade e ambições.
Neste Brasil inteiro poucos lugares tem esta idéia de pertencimento arraigado, como vigora no Rio Grande do Sul onde Érico Veríssimo no seu O Tempo e o Vento, elucidou o enigma do pertencimento e simbiose do homem à terra.
Essa epopéia que todo gaúcho aprende a cultivar, os obriga a levar a todos os quadrantes do Brasil onde se alojam, com seus CTGs músicas e danças, jamais esquecendo da cultura da terra a que pertencem e que determina seu inconsciente coletivo.
Que a divisão do MT, foi uma derrota da unidade cultural, geo econômica e geopolítica sustentável Pantanal, não resta a menor dúvida, salomonicamente mal dividido em dois terços para o Mato Grosso do Sul e um terço para o Mato Grosso, logo compensado por ambos os perdedores, ao transformar bacias do planalto em aumento das planícies faltantes.
Assim como a cultura do gaúcho estava para o Rio Grande , a cultura pantaneira estava para o antigo Mato Grosso, as enchentes que antecederam a divisão, já tinham mergulhado a produção pecuária da planície numa crise dramática de desvalorização , que perdurou até sua exaustão.
Muitos incentivos internacionais e governamentais para se desmatar o cerrado do planalto adjacente, plantar braquiárias e adquirir o desvalorizado gado dos pantaneiros, que os empobreceu na medida que ajudavam a povoar de gado o Brasil.
Em pouco tempo novas consequências advieram com o assoreamento dos rios, agravando enchentes… Quando essa situação estabilizou, nova tragédia se abateu, o ambientalismo que desejava transformar o Pantanal em imensas reservas facilmente conseguiu “ajudar” os governos a se livrar daquele enorme problema: o Pantanal.
Em consequência, tanto no MT quanto no MS, apesar de reiterados avisos triunfaram a imposição de restrições e da necessidade de implantar um modelo de reservas e uma nova crise apareceu, quando um novo ciclo de estiagem se prolongou e vieram os incêndios devastadores, calcinando em alguns lugares os 40 anos de turfa decomposta, oriunda do excesso de vegetação desvitalizada acumulada nas tais “reservas”.
No presente, acreditávamos estar entrando numa nova fase, encontrando fartura de pão na inserção dos bezerros pantaneiros na cadeia produtiva da carne, produzidos na fábrica de pecuária sustentável que o Pantanal havia se transformado.
Mesmo assim o Pantanal segue ameaçado, após aceitarmos a Lei do Pantanal, fomos surpreendidos que tal lei fortaleceria uma interpretação de ruptura no conceito do fogo no Pantanal, recrudescendo a concupiscente política das ongs, criando uma armadilha no próprio chão em que, finalmente, os pantaneiros pensavam ter firmados seus pés.
O Pantanal só pode continuar a expor que, a seu pão e seu chão, não pode ser imposto virar uma simples reserva de vão, para prazer e lucro de tão notórios expoliadores!
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro