Depois de palmilhado por portugueses e espanhóis, atravessando o período do áureo extrativismo colonial, eis que o Pantanal, desde o Império do Brasil, recebeu investimentos governamentais e diretrizes de planejamento visando a defesa e a correta exploração de suas potencialidades econômicas.
Décadas de vultuosos investimentos para o Governo Central em infraestrutura de defesa, comunicação, transporte fluvial e transporte ferroviário destacaram esta região como uma das mais promissoras no mundo, culminando por atrair imigrantes dos mais diversos países, que por aqui, junto aos habitantes originários geraram um tipo humano adepto de uma cultura solidária e cosmopolita, dos que amam estas paisagens.
Importante destacar que um fato sempre se repetiu, a chegada junto com os que vinham com o propósito de adaptar-se a este local para reconstruir sua existência, muitos trapaceiros que se uniam a aproveitadores imediatistas, ansiosos pare se locupletar rapidamente da riqueza ou capital já acumulados regionalmente e vazar.
Modernamente sugiram dois termos para definir os atrativos destes lugares considerados ainda virgens para manobras visando extrair rapidamente o capital existente, o neoextrativismo denominado “greenfield” ou campo verde inculto, pois tidos e havidos serem habitado por gente sem malícia, ainda inocentes das manobras do capitalismo selvagem urbano.
Também o “green washing” ou lavagem verde, que visa monetizar em benefício de alguns iluminados investidores o enorme patrimônio ambiental oculto, surgido por conta da inédita compatibilização da atividade econômica com a sustentabilidade ecológica…
Portanto, greenwashers e greenfielders têm interesses semelhantes em regiões dotadas de logística, a partir de um foco comum: – Destruir a infraestrutura de transporte existente, substituindo-a por outra mais utilizadora de modais que inviabilizarão ou encarecerão a produção e o viver no local.
A única ferrovia do Brasil criada organicamente por seguidos governantes que a consideraram como objetivo nacional permanente, onde finalmente, um trem correu para Oeste para viabilizar um entreposto no local da intersecção multimodal com a histórico Rio Paraguai.
O pantaneiro do seu posto de observação assistiu o saque de todos os ativos realizáveis da Ferrovia Noroeste do Brasil, (desconfia-se que também tenham apropriado contabilmente de valores do ativo imobilizado para gerar lucros imediatos), culminando com a tentativa de devolução da sucata restante, almejando saírem impunes da devida indenização prevista no contrato de concessão…
Enquanto isso, imobilizada a navegação do Tramo Norte de Corumbá por questões legais e ambientais, zerada a capacidade de autodragagem que uma navegação constante proporcionava, bem como a inviabilização da retenção de sedimentos e controle das águas nos devastados planaltos, agravadas tais condições por erosão fluvial e pluvial, causadas por potentes barcos de turismo correndo em busca do derradeiro peixe, os greenwashers também pretendem sair impunes, sem pagar pelos anos de campanhas e manipulações, que sob a desculpa ambiental, aproveitaram da fraqueza reinante para pagarem por seu inesperado fruto, a quase total destruição dos rios da Planície Pantaneira.
Estaria um resiliente pantaneiro fazendo chororô do que perdeu ? “-Jamais, senhores…” Os pantaneiros querem pontuar que sabem terem sido saqueados da maior concentração de rebanho bovino do mundo, arrastadas a preço vil pós enchente 1974, evento que culminou com a desvalorização brutal dos magníficos campos de criação do Pantanal.
O capital imobilizado nas terras que sobraram, e o rebanho recomposto, está disponível para reconstrução, desde que incorpore-se a monetização do valor oculto da natureza nas fazendas pantaneiras sustentáveis, e se busquem as incipientes compensações por manutenção integral da vegetação nativa, créditos de carbono e prestação de serviços ambientais…
Quanto ao saque de trilhos e dormentes, imóveis e vagões, locomotivas e desindustrialização dos consumidores dos minérios, o que sobrou de capital imobilizado na via permanente desde Bauru até Corumbá, sem custos de desapropriação para nova implantação mesmo em áreas urbanas , e as magníficas obras de arte permanentes e duradouras sobre rios, corrégos e o Pantanal, poderão viabilizar de imediato novos trilhos de bitola larga e dormentes de concreto.
Resumindo, por maior que seja a tragédia dos trapaceiros associados às trapalhadas dos que deveriam fiscalizar os ativos imobilizados ou realizáveis que sobraram no Pantanal, estes são mais do que suficientes para atrair investidores interessados em viabilizar o rumo da logística do maior e mais central entreposto internacional de toda a América do Sul.
O resiliente e forte Pantanal somente expõe que a hora é de auditorias jurídicas, fiscais e ambientais, para acordar os que sesteiam sobre nosso futuro e tentar impor que se aproveite a crise atual, para iniciarmos de imediato a revitalização, partindo do resultado dessas perícias e multas ambientais, e das sobras do que os saqueadores abandonaram ao longo dos caminhos de Bauru a Ilo e Matarani, e de Cáceres e Poconé a Nueva Palmira e Buenos Aires.
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro