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Conseguirão taquarizar o Paraguaizão?

Mestre Mário Quintana, ribeirinho do RS, assim descreve antiga enchente em sua Porto Alegre: “-A enchente de 1941. Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. Tínhamos assim um rio só para nós. Um rio de portas adentro. Que dias aqueles! E de noite não era preciso sonhar: pois não andava um barco de verdade assombrando os corredores?Foi também a época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas…”

Mas haveria embasamento poético para tal assertiva? Nosso poeta pantaneiro Manoel de Barros, também pontuou: “-Definitivo, cabal nunca há de ser este rio Taquari…Um rio desbocado, cujos estragos, compõem.”

Frederico Bussinger, Engenheiro e Economista, complementou em “Areias, chuvas, enchentes: lições aprendidas e a aprender:- Rios assoreados tem menor capacidade de vazão e transbordam de suas calhas com maior facilidade. Claro que devem ser desassoreados periodicamente.”

O pesquisador Antônio Eduardo Lanna, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS,em 1998, na publicação “Sobre o muro da Mauá” a par do carater cientifico, traçou interessante metáfora ao analisar a ferrenha resistência a obras físicas, dos movimentos urbanos ambientalistas e seus patronos nas esferas legais e governamentais:

“‘ Representando a situação com uma imagem: Antes da construção do Muro a população de Porto Alegre poderia estar fazendo uma roleta russa – mas quem apertava o gatilho do revólver era um ser abstrato: a natureza, o destino, etc. Com sua construção, e posterior retirada, quem passará a apertar o gatilho é o governo que determinou sua retirada…

O Muro da Mauá, por promover a proteção coletiva, ou seja, a segurança pública, se assemelharia à ação da Brigada Militar, sua existência controla danos ao patrimônio e à vida.”

O Ministério da Agricultura do Brasil, em convênio internacional entre a Embrapa Pantanal e Instituto Alterra da Holanda , promoveu todos os estudos científicos necessários publicando o Documento Embrapa 025, de 2005, que serve de adorno às bibliotecas públicas, mas as soluções propostas, mesmo embasadas cientificamente, continuam a aguardar o fim do negacionismo e da omissão como política pública, em todas as esferas.

E olhe que para nosso Rio Taquari pantaneiro foi proposto não um muro na sua extensão, mas simples retenção de sedimentos no planalto, com barragens e limpeza custeadas por PCHs, conforme levantamento técnico da Agência Nacional das Águas no PCBAP-Programa de Conservação da Bacia do Alto Paraguai.

No fundo, não querem deixar de culpar a natureza, e nem permitem as auditorias técnicas que certamente abalariam as estruturas das muralhas das narrativas aos que lucram com a perenização dos problemas do Pantanal: dragagem de desassoreamento do leito dos rios , hidrovia, barragens, aproveitamento hidroelétrico, compensação dos prejuízos comprovados aos pantaneiros…

Conforme os ensinamentos dos trabalhos elencados, como iniciar plantio de árvores, serviço com ares intermináveis quando comparados à magnitude da área devastada, tal ação permanente de prevenção e antecipação , jamais poderia ser confundida como alguma mágica salvadora, o custo de “empurrar com a barriga” exaurirá ao longo do tempo mundos e fundos e certamente visa anistiar quem, nestas várias décadas, lucrou com a destruição criminosa até das Apps e matas ciliares…

Como demonstrado, nesses casos qualquer ação deve ser imediatamente voltada para minimização dos danos, socorro aos afetados na planície e buscar o restabelecimento sistêmico da antiga retenção natural de sedimentos, com liberação criteriosa das águas retidas no Planalto, possibilitando o efeito esponja, que ajudará as exauridas águas subterrâneas dos aquíferos.

As notáveis semelhanças dos Rios Taquaris, tanto da planície riograndense como da planície pantaneira, exigem que devemos desassorear nossos rios e baías, obras que não alterarão sua pequena altitude e baixa velocidade em relação ao nível do mar.

O restabelecer de algum controle sobre as águas desembestadas dos planaltos, propiciarão a proteção coletiva necessária à manutenção da vida nos rios de planície.

O Pantanal portanto, expõe veementemente, que ainda há tempo de evitar a taquarização de nosso principal rio, o Rio Paraguai.

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

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