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Secretário demitido diz que foi pressionado pelo governo para comprar arroz: “bode expiatório”

Ex-secretário acusa governo de pressão para organizar leilão de arroz e se diz “bode expiatório” após anulação por suspeitas de irregularidades.

Neri Geller, que até recentemente era o Secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, afirmou na quarta-feira (12) que o governo o pressionou para organizar um leilão que adquiriu 263 mil toneladas de arroz importado. Esse leilão, no entanto, foi anulado na terça-feira (11) devido a suspeitas de irregularidades. Geller disse que está sendo usado como “bode expiatório” para o fracasso do leilão.

Geller renunciou à sua posição depois que surgiram suspeitas de favorecimento a seu filho, Marcello Geller, que é parceiro de uma das corretoras que participou do leilão. A licitação foi ganha por quatro empresas a um custo de R$ 1,3 bilhão, com três delas não atuando no mercado de transação de grãos.

Ele assumiu a organização do leilão e afirmou que sofreu pressão da Casa Civil e do Ministério da Agricultura para adquirir uma grande quantidade de arroz, mesmo enfrentando intensas críticas do agronegócio.

“Foi mal conduzido, em momento de egos aguçados. [A quantidade foi] uma decisão da Casa Civil junto com o ministro [Carlos] Fávaro certeza. Agora, como que se deu lá eu não consegui participar, porque o ministro puxou esse assunto 100% pro gabinete. Mas, quem decidiu obviamente não fomos nós”, disse em entrevista à BandNews TV.

O ex-secretário também declarou que as especificações técnicas para a realização do leilão “não foram seguidas”, corroborando com o que disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a participantes da reunião mais cedo, que cancelou o leilão.

Geller afirmou enfaticamente que “sem dúvida” as normas não foram cumpridas, e que “faltou organização, faltou orientação”. “Se você buscar nos anais das reuniões que nós fizemos, lógico que foram reuniões internas, as posições técnicas não foram seguidas. […] Foi de forma muito açodada”, apontou.

Foi confirmado por Neri Geller que já era conhecido o fato de que 78% da safra de arroz do Rio Grande do Sul já havia sido colhida e armazenada nos depósitos dos produtores, com o restante fora das áreas fortemente impactadas pelas enchentes. Ele ressaltou que “Teve uma queda de apenas 500 mil toneladas”, pontuou.

Ele também destacou que era sabido que a região Centro-oeste do Brasil experimentou um aumento de 30% na produção de arroz e que havia também a produção de outros países do Mercosul. Ele completou, “[O leilão] deveria ser feito de forma mais escalonada”.

“Bode expiatório”

O antigo secretário negou qualquer tipo de privilégio para seu filho e parceiro de negócios, Robson Almeida de França, que foi seu assistente quatro anos atrás. De acordo com Neri Geller, o empresário começou a envolver-se em leilões de grãos após deixar o escritório e, até mesmo, participou de outros leilões no ano anterior.

“Então, aqueles valiam e agora não vale mais”, questionou dizendo que falou com Robson na noite da última sexta (7), quando começou a surgir a suspeita, e que ficou triste com a repercussão. “Eu vou sair como bode expiatório dessa questão? Eu não vou aceitar de forma nenhuma”, disparou.

Ele solicitou ainda que a Polícia Federal averigue se ele teve algum envolvimento direto, enfatizando que possui uma trajetória política de mais de três décadas que não pode ser ignorada.

Neri Geller, ex-ministro da Agricultura durante o governo de Dilma Rousseff (PT) e ex-deputado federal, desempenhou um papel crucial na aproximação de Lula com o setor do agronegócio durante as eleições de 2022. Geller era um dos candidatos potenciais para o ministério em um setor que em grande parte apoiou a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A escolha de importar arroz ocorreu em resposta às inundações no Rio Grande do Sul, estado que contribui com 70% da produção nacional do grão. Mesmo com 80% da safra já tendo sido colhida antes das chuvas, as inundações afetaram de forma significativa a logística e o transporte do cereal para outras partes do país.

Durante o final de semana passado, foi estabelecido pela Conab que as quatro companhias que ganharam o leilão precisavam demonstrar capacidade técnica e financeira para mediar a compra, que custou ao governo R$ 1,3 bilhão.

As informações são da Gazeta do Povo

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