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Uma História de Areias

Nelson Araújo Filho já acertadamente antecipava o que iria ocorrer

Nas quartas-feiras no Blog do Alex Fraga um dos espaços é reservado para o escritor, poeta, presidente do Instituo Agwa e ambientalista, Nelson Araújo Filho. O artigo “Uma História de Areias” foi escrito e publicado no mês de abril passado. Nelson Araújo Filho já acertadamente antecipava o que iria ocorrer: especulação, falatório e principalmente mostrava comprovadamente que o “Pantanal que queima é o de areia”. As causas divulgadas nos últimos 60 dias, quase como se fossem sincronizadas, são: seca prolongada, desmatamento, fogo provocado por pantaneiros e até mesmo para alguns “estudiosos”, a existência de PCH`s (Pequenas Centrais Hidrelétricas) em rios menores que abastecem o Pantanal. Mas, poucos tiveram a coragem de ir no “X” da questão: a “AREIA”. Muitos acusam (sem provas) – principalmente os representantes do Estado, que a comunidade pantaneira está colocando o fogo no Pantanal. Jogar culpa nela novamente, é uma tentativa de se eximir de sua própria responsabilidade e consequentemente penalizar o pantaneiro por duas vezes: primeiro pela areia e agora pelo fogo! Essa culpabilidade é governamental e não pantaneira!

O meio ambiente natural é também uma grande exposição de arte. Ostenta ele poderosas imagens de expressão e reflexo das emoções, da sensibilidade do homem. Hoje quero falar um pouco sobre o meio natural, aproveitando a praça de ideias que o Alex Fraga, muito inspirado, ergueu em favor da cultura.

Nos últimos anos tenho me dedicado ao Pantanal. Em conjunto com amigos e parceiros temos focado os territórios, na planície, que sofrem o impacto do assoreamento. Nós procuramos mostrar o problema e as alterações importantes que ele provoca. Ao mesmo tempo, temos a preocupação de propor soluções de produção de riqueza e inclusão social como ferramentas de preservação. Meio ambiente, onde não há trabalho, é o primeiro a ser sacrificado pela pobreza. Criamos o Instituto AGWA e uma base no Paraguai Mirim, bem no centro dos acontecimentos.
Talvez a parte mais difícil da tarefa seja o convencimento das pessoas. Quem vê cara, não vê coração. Pantanal é mestre em exibir caras. Não se permite aos de fora.

Pantanal, pior ainda, é ciclotímico. Atualmente atravessa uma fase de sequidão. Esse ano promete muito falatório. Muita especulação.

Estou me antecipando para dizer que o Pantanal não vai pegar fogo. O pantanal do gado, das savanas, que ocupa a maior área, pode até secar, mas não vai arder. Já o Pantanal das Areias, aquele que surgiu por causa do assoreamento, especialmente ao longo dos rios Paraguai e complexo Cuiabá e São Lourenço, nele, o fogo vai fazer festa. Não vai ser grandiosa, pois de 22 e 23 para cá não houve acúmulo de material de combustão suficiente para produzir espetáculo. Mas ainda assim essa parte da planície vai queimar o necessário para avermelhar o noticiário.
O assunto fogo vai ser tratado como se o pantanal fosse único e estivesse em toda sua extensão coberto de incêndios. Isso, nos tempos recentes, nunca foi verdade. Os incêndios, desde 20, têm ocorrido apenas no Pantanal das Areias, lugar desocupado, sem atividade econômica, onde nos anos de chuva normal os alagados são permanentes, entra ano e sai ano, por causa das areias que entopem as calhas dos rios. Mas, em tempos de águas escassas, esses alagamentos vazam rapidamente expondo grande quantidade de vegetação aquática que seca e queima. Queima muito.

Entender essa diferença é muito importante. Se o problema não for visto, ele também não será solucionado. As iniciativas dirigidas ao combate de seus efeitos, dentre os quais o fogo, não terão a dimensão adequada. E o pior, o problema vai se agravar.

Pantanal que queima é o Pantanal das Areias.

Por: Nelson Araújo Filho

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