A milionária parafernália aérea utilizada pelos Governos Federal e Estaduais, o sacrifício dos Bombeiros Militares, Brigadas anti incêndios e a decisiva participação das fazendas privadas com seus equipamentos e colaboradores que dominam o terreno, complementada com benfazeja mudança de tempo, deu um descanso na midiática tragédia atual do Pantanal.
Alguns pantaneiros seguem reclamando pois ainda existem focos nas beiras dos rios, principalmente nas centenárias árvores como piúvas, cambarás, canafístulas e tarumeiros, muitas permanecerão queimando inexoravelmente a partir das próprias raízes.
Finalmente parece que começam a entender as formas necessárias para melhor combater estes incêndios Classe P de Pantanal , definindo, por exemplo, prioridades pré e pós passagem do fogo nas serapilheiras das matas ripárias das beiras de rios e corixos, as verdadeiras reservas e corredores ecológicos, necessitando de proteção imediata pois se tratam de Áreas de Preservação Permanentes ou APPs.
Umedecer essa faixa que normalmente tem água disponível ao lado, no pré fogo, praticamente mitigaria danos maiores às árvores matrizes, e o fogo só sapecaria rapidamente, sem maiores consequências para o banco de sementes, e molhar posteriormente impediria as dantescas cenas do fogo nas raízes e parte inferior dos troncos, com a árvore sofrendo em pé, viva e florida.
Conhecidos voyers em distantes aparatos de computação ainda se sentem importantes conservadores, pois fazem interpretações literais que imediatamente viram pauta de órgãos internacionais, no modelo colonial da África, entrevistam incautos moradores até encontrar personagens com interpretações adequadas à narrativa proposta, visando maior impacto amedrontador num público já preparado por animais mostrados em necrófilas imagens, onde por conta desse fabricado sensacionalismo, consigam turbinar doações a institutos e organizações ambientalóides citadas…
Uma realidade paralela vigora nesse Pantanal virtual, se quisessem compreender a cultura local, bastaria buscar as razões históricas que explicariam aos curiosos o fato dele ser totalmente propriedade privada, portanto seria impossível a propaganda dos incêndios serem somente consequência de “fazendeiros” abrindo pastagens, e queimando as parcas “reservas” ambientais…
Ainda resta a esclarecer de que nas áreas próximas aos rios, está havendo intensa expropriação imobiliária e já existem enormes latifúndios ambientalistas adquiridos seja para parques governamentais , reservas particulares ou enormes áreas de entorno, usando quaisquer meios legais ou nem tanto, a quem não foram exigidos EIA-RIMA, imprescindíveis em empreendimentos meramente especulativos, sem contratação de pessoal ou investimento pecuário, e comprovados como barris de pólvora aguardando alguma aleatória ignição.
Os primeiros incêndios geraram o que os locais chamam de fire business, a exploração do fogo como negócio criador de oportunidades para acelerar a implantação da malthusiana forma de Viridis Pax ou Paz Verde, pois tinham ali bem a mão, os suspeitos de sempre, aptos a serem linchados virtualmente, e com isso acessarem os bolsos dos crédulos urbanos, loucos para expiar suas próprias culpas citadinas pela destruição da natureza…
Finalmente, conhecida mega reserva particular em Poconé MT, vem a público noticiar que vai adotar as medidas necessárias que toda propriedade privada no Pantanal já adota para sua sustentabilidade: Contratação por largo período de colaboradores que serão utilizados como brigada de incêndio, interagir e serem solidários com os vizinhos, monitoramento permanente de focos de calor via satélite, construção de poços e bebedouros como se fossem para pecuária tradicional e, finalmente aprenderem a usar o fogo amigo dos pantaneiros pomposamente chamado de queima prescrita, faltou somente comprar umas novilhas, iniciar uma criação de bois bombeiros e retornariam ao status quo sustentável anterior.
A disponibilidade de dados virtuais entre os anos que coincidem com o recorde de cheia de 1985-86 com recorde de seca atual, sem considerar que comparar um período de extrema enchente com período de desértica seca , geraria esdrúxula conclusão, colidindo com a verdade pantaneira que aceita a ordem natural, só restando trabalhar para minorar os prejuizos do excesso ou falta de chuvas, passando a cavar; cavar, sejam poços na terra ou canoas nas árvores, paradoxal ressignificação de objetos do Pantanal : A canoa usada sobre as águas como montaria, vira depósito d’água de emergência na seca , como inusitado bebedouro para animais …
Lembramos das árvores frondosas e a urgência de socorrê-las agora que acalmaram os trágicos incêndios, a região Oeste do Paiaguás, onde ainda faço rastros, está com bastante água , apresentando enorme quantidade de pasto, mesmo dobrando a lotação de gado, persiste a necessidade de se tomar outras medidas para mitigar esse excesso ou também poderemos, apesar do gado bombeiro, enfrentar focos de incêndios.
Ao falar de árvores faz-se necessário que as pessoas compreendam a relação atávica do incosciente coletivo com a flora, as famílias pantaneiras constituem-se um matriarcado de origens imemoriais, com a mulher pantaneira assumindo o papel de mater arbol, verdadeiras figueiras mães, em cuja magnífica sombra pôde, enfim, vicejar a vida do Pantanal.
Graças a tantos pesquisadores que buscam as razões de nossa cultura, compartilho com orgulho, uma nova figueira pantaneira , que começa a espalhar na grande cidade, uma síntese esclarecedora de tantos sofismas que ainda permanecem sobre esta gente que insiste em não reconhecer os magníficos resultados da arte de viver entre tanta água e tanta seca, na caoticamente perfeita Madre Natureza do Pantanal.
“-O pantaneiro ama sua terra e precisa que ela seja economicamente viável.O desenvolvimento sustentável é necessário para que a proteção ecológica caminhe
simultaneamente com as transformações culturais e com os anseios econômicos dos habitantes do Pantanal, que são tão legítimos quanto os anseios de todos os habitantes do país.”Por Anitablian, L. B. M. Identidade pantaneira: uma reflexão sobre a expressão artística do povo pantaneiro. N. p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2023.
O Pantanal continua incansavelmente a expôr a realidade factual, que as câmeras indiscretas de longo alcance não devassam, tentando convencer por seu conhecimento de campo a inconsistência das virtualidades da “fuzzy logic” logarítmica, mostrando a beleza que obteve, ao cultuar todas as raizes que geram, tanto incomparáveis florações como pródigos e incomparáveis frutos…
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro