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Frei Marianno, Pacalalá e Gabriel Barbosa ,três heróis e um ato só: ” – Ao menos não mostrarei só as costas!”

Em antiga invasão de conquista sofrida pelo Pantanal, o então Tenente Taunay, brioso oficial da arma de Artilharia, legou-nos soberbas narrativas da epopéia de combater neste inóspito terreno, que se tornaram verdadeiros clássicos da literatura nacional.

Usou também o pseudônimo Sylvio Dinarte para relatar as façanhas romanceadas de alguns heróicos personagens desses esquecidos combates contra o predador inimigo.

Entre eles sobressai o mineiro Gabriel Barbosa na debandada de Nioac, assustados com os massacres que o Coronel inimigo promovera a quem se opusesse a sua invasão, no meio da correria, parou, desceu do cavalo e em seguida instado a correr para o mato pois parar seria morte certa , afirmou:” -Ao menos não mostrarei só as costas!”

Depois escorvou com cuidado sua arma e parou imóvel no meio da estrada, ao vê-lo firme, um dos perseguidores esporeou o cavalo querendo colher a glória de matar o primeiro brasileiro, pereceu entretanto sob sua mira, e sepultado no local, onde teve uma cruz como monumento, ao pé desse madeiro esteve por muito tempo atirado, como homenagem aos restos de quem ali descansava, “um craneo com dous grandes talhos de espada . Era o craneo de Gabriel Barbosa.”

Quando Sylvio Dinarte nos relatou a história do jovem guerreiro kinikinao Pacalalá, discípulo de Frei Mariano, que espontâneamente servira no lugar de outro índio contratado a preço vil por dois meses, ao final doara o injusto provento ao vigário, mas granjeara com isso o respeito de todos os moradores e aldeias vizinhas da Vila de Miranda.

Foi o único na fuga desabalada para a Serra de Maracaju, que tomou a feliz providência de se apossar e depois distribuir as armas e munições do paiol abandonado, suficientes para causar enormes prejuízos ao inimigo, durante todo o período da ocupação.

Descreveu-nos com candente palavras o retorno do frade capuchinho à Vila::-Elle voava para a sua matriz. Ahi também o esperavão destroços que tomavão o
caracter de negro sacrilégio. As torres sem os sinos,
os altares despidos dos santos ornatos, o tecto esburacado, o chão coberto de caliça e caibros, as imagens mutiladas, de prompto ferirão os olhos de frei Marianno. Então todos os projectos de conciliação desapparecerão-lhe da mente, e elle, transfigurado pelo desespero e pela indignação, no meio d’aquelle templo esboroado fulminou com a sua excommunhão a todos os paraguayos. ,
A eloqüência selvática do capuchinho aterrou os que o cercavão. -Forão os Mbaiás , gritou meio assombrado uni d’elles.

— Não, não forão! Meus filhos não farião isto, exclamou o6 frade cuja exaltação não achou limites senão quando de todo lhe faltarão forças para clamar vingança aos céos. Na manhã seguinte teve ordem de prisão e pouco depois foi transferido para Assunção.

Ja o guerreiro kinikinao Pacalalá, organizador maior da resistência, foi morto quando aproximava-se o final da ocupação, ao infiltrar-se num canavial na beira do Rio Aquidauana e tentar produzir melado tão necessárias nos acampamentos escondidas na Serra de Maracaju, morreu talvez do último tiro disparado por patrulhas que o cercaram, e que terminaram por fugir.

Mais tarde, encontrado o corpo milagrosamente mumificado, por sua mãe Camiran, que o enterrou com suas próprias mãos e cujos restos tambem foram encontrados sobre o túmulo do filho , tal como o crânio de Gabriel Barbosa sobre o túmulo do soldado da cavalaria paraguaia, até que fossem piedosamente re-inumados por seus compatriotas, enfim libertos dos seus incansáveis predadores

Contra a arrogância dos invasores atuais, acreditando-se onipotentes impositores de uma realidade virtual, narrativa que só se sustentará se houver concordância das instâncias jurídicas e governamentais com a injustificável perseguição aos pantaneiros que ousam combater a desfaunação e desflorização óbvia, apesar das bilionárias promessas que, até agora, só transformam o dinheiro derramado dos governos, e os pedaços de “áreas protegidas” que conseguiram apossar, em um pântano de cinzas.

Resta-nos seguir expondo sobre qual Pantanal desejam os que se importam com seu destino, reiteirando caso as narrativas da cobiça, da difamação, da persecução econômica, fiscal e legal venham a triunfar sobre o amor dos pantaneiros, sepultarão junto as garantias seculares da tradicional pecuária, onde animais são criados diligentemente para sustentarem a vida do Pantanal, afinal todas as vidas do Pantanal são entrelaçadas e importam, por serem componentes imprescindíveis na manutenção de sua futura sustentabilidade…

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

Ao Professor Marcos, gratidão por nos guiar neste universo da literatura histórica da Bacia Platina…

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