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Pantaneiro vê commodities no lixo dos extrativistas.

Uma reportagem de Jo Chandler para a revista Nature afirma: “-A luxuosa iguaria conhecida como “bexiga natatória” ou “fish maw” como é conhecida mundialmente, amplamente consumida como símbolo de status e usada na medicina tradicional em algumas culturas asiáticas, está causando uma crise ecológica em regiões vulneráveis.”

Pocas secando em frente a casas de comunidade ribeirinha. Credit: Yolarnie Amepou/Piku Biodiversity Network

 

Durante anos, sentado embaixo da árvore do Porto São Pedro, pude comprovar que a matança de peixes pela pesca turística e profissional, uma durante o dia e outra a noite, acabariam por liquidar o estoque pesqueiro do Pantanal…

Infelizmente isso parece ter acontecido, muito mais pela forma estúpida de promover-se a matança e jogar a barrigada dos peixes abatidos dentro do próprio rio.

Parecia loucura o argumento que os peixes ao serem capturados, deveriam ser colocados imediatamente num recipiente com gelo para, numa reação natural à hipotermia, auto limparem-se livrando-se de todo o conteúdo do trato digestivo.

Limpos internamente poderiam então ser congelados nas câmaras frias dos barcos, sem nenhuma possibilidade de entrarem em decomposição a partir do conteúdo das vísceras e levados a um local para processamento adequado.

Diferentes variedades de bexigas natatórias secas numa vitrine de loja em Hong Kong. Credit: Anthony Wallace/AFP/Getty

 

Ao abrir-se mão do estúpido porreteamento no Pantanal, poderia-se propiciar o aproveitamento dos ossos, peles, órgãos internos e principalmente da tal bexiga natatória…

Afirma a The Nature: “-A bexiga natatória é um órgão interno presente na maioria dos peixes ósseos, e é responsável por ajudar esses animais a controlar sua flutuabilidade na água.

Funcionando quase que como um “balão” interno, a bexiga permite que o peixe ajuste a quantidade de gás no órgão, para subir ou descer na água sem gastar muita energia. principalmente as bexigas natatórias.”

Resumindo, para os pantaneiros, essa tal de “Fish Maw” que atinge valores de US$ 15,615 o quilograma, é simplesmente nossa boa e velha poca, limpa e seca ao sol…

Diante do descalabro e o pega para capar que a ausência de pescado prenuncia para amadores, esportistas e profissionais, disputando palmo a palmo quem deve ser proibido e quem deve ser liberado, abraçados às cotas que tornaram-se, ao longo do tempo, o único instrumento de propaganda do Pantanal como destino pesqueiro.

Ultrapassada a obviedade de uma moratória pesqueira e até mesmo de recomposição de estoques e incentivo à produção de peixes na Planicie do Pantanal em tanques redes, talvez estejamos diante do momento de construirmos um ajuste para que os amadores e turistas capturem o pescado e os profissionais concentrem-se em manusear e aproveitar integralmente nas suas cooperativas, dentro dos conceitos pantaneiros de uso total do animal que daria sua vida para mantermos a nossa.

O produto seria entregue limpo, embalado, temperado e totalmente pronto para ser frito, assado ou cozido, a todo feliz pescador no Pantanal que poderia desfrutá-lo na sua cidade ou presentear os amigos, na quantidade que sua carteira permitisse.

Poder capturar sem praticar o crime de desperdiçar partes nobres como descartar a valiosa poca e seus órgãos internos, e ainda poluir a água onde o peixe vive ou levar para jogar no lixo de onde mora, preciosas cabeças, escamas, peles, ossos, nadadeiras e espinhas…

Evidente que, o pescador artesanal tradicional, com sua linha de mão numa canoinha ou chalana individual, poderia seguir praticando sua atividade como arte para a própria subsistência individual, desde que, claramente, não servisse para atender obscuros interesses políticos e empresariais de terceiros.

O Pantanal expõe, mas nunca impõe, até a poca dos peixes pantaneiros são outra das valiosas commodities internacionais, tão provincianamente ignorada…

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

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