Nesta sexta-feira, dia 29, o The Wall Street Journal, um jornal dos Estados Unidos, divulgou um artigo acerca das ações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua tentativa de se candidatar à Presidência da República nas eleições de 2026. Bolsonaro também concedeu uma entrevista ao jornal.
No começo do artigo, Samantha Pearson, correspondente brasileira do jornal, esclarece que Bolsonaro está proibido de se candidatar a cargos públicos até 2030 e está sob acusações de supostamente orquestrar um golpe de Estado. Contudo, o ex-chefe de estado tem a convicção de que, com a volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, ele terá a possibilidade de participar da próxima eleição presidencial.
Bolsonaro afirmou que ele e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, estiveram em contato próximo com a equipe de Trump a partir do dia 5 de novembro, data em que o republicano foi declarado o 47º presidente dos Estados Unidos após derrotar a atual vice-presidente, a democrata Kamala Harris.
O texto informa que Bolsonaro se destacou como um dos aliados internacionais mais íntimos de Trump. Mantendo perspectivas semelhantes em relação a conflitos culturais e um desdém compartilhado pela esquerda política e pela imprensa, a dupla consolidou sua parceria durante o tempo em que seus mandatos se sobrepuseram, em 2019 e 2020. Unidos, se posicionaram contra o governante autoritário da Venezuela, Nicolás Maduro.
“Ainda extremamente popular entre os conservadores sociais do Brasil e parte da comunidade empresarial, Bolsonaro venceria por pouco uma eleição contra Lula se a votação fosse realizada hoje, segundo uma pesquisa desta semana do instituto Paraná Pesquisas. Bolsonaro obteria 37,6% dos votos, enquanto o líder de esquerda receberia 33,6%.”
Bolsonaro tem se esforçado para consolidar relações regionais e globais com líderes conservadores, tais como o presidente da Argentina, Javier Milei, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, conforme mencionado por ele mesmo. Ele chegou a presenteá-los com sua significativa medalha dos “3is: imbrochável, imorrível e incomível”.
“Bolsonaro nunca precisou tanto de Trump”, afirma artigo do WSJ
Após a polícia apreender o passaporte de Bolsonaro no começo deste ano, seu filho Eduardo, que é amigo de Steve Bannon, ex-assessor de Trump, desempenhou o papel de intermediário, participando da eleição presidencial dos EUA ao lado de Trump no resort Mar-a-Lago.
“É hora de MAAGA — Fazer todas as Américas grandiosas novamente”, disse Bolsonaro, exibindo orgulhosamente um livro publicado no ano passado que Trump lhe deu com a dedicatória “Jair — Você é INCRÍVEL”.
“Apelidado pela imprensa brasileira de ‘Trump dos Trópicos’, Bolsonaro nunca precisou tanto de seu contraparte norte-americano, embora não esteja claro quanto poderia receber de ajuda e de que forma”, afirma o artigo do WSJ.
Segundo o artigo, a polícia brasileira fez acusações na semana anterior a Bolsonaro e 36 de seus aliados, alegando que eles estariam arquitetando um golpe para barrar a posse de Lula após as eleições de 2022. A Justiça Eleitoral, no ano anterior, concluiu que a confiança no sistema eleitoral foi minada por Bolsonaro ao atribuir a Lula acusações de fraude. Bolsonaro refuta tais acusações, alegando ser vítima de perseguição política por parte de Lula e magistrados de tendência esquerdista.
“Eles não querem só me prender, querem me matar”, disse Bolsonaro, que tem 69 anos. Ele levantou a camisa para mostrar uma cicatriz gigante em seu abdômen, resultado de um esfaqueamento quase fatal durante a campanha de 2018. Um juiz determinou mais tarde que o atacante era mentalmente incapaz.
Da mesma forma que Trump, ele busca estabelecer sua marca pessoal através de produtos de merchandising, tendo recentemente introduzido sua própria loção pós-barba. Ele anunciou que a próxima adição será a cerveja Bolsonaro.
Bolsonaro tem planos de registrar sua candidatura antes das eleições de 2026, mesmo com a proibição, contando com o apoio de Trump para pressionar os juízes brasileiros a adiar a implementação da decisão de 2023, o que lhe permitiria concorrer. O ex-militar brasileiro insinuou que Trump poderia estabelecer sanções econômicas contra o governo Lula para auxiliá-lo.
“Há também pessoas mais inteligentes do que eu, mas ninguém tem a pele mais grossa, nem a experiência que eu tenho”, diz ex-presidente
Ainda em entrevista ao WSJ, Bolsonaro afirmou que, enquanto seu registro não for indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral, ele ainda é válido. “Eles podem adiar o máximo possível… até que a eleição tenha passado”, acescentou.
O indicado por Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal, o ministro Kassio Nunes Marques, está agendado para assumir a presidência do tribunal eleitoral do Brasil em 2026. No ano passado, Marques votou contra a decisão de banir Bolsonaro.
“Não estou obcecado pelo poder, na verdade é algo bastante cansativo para a minha idade”, disse Bolsonaro. “Há também pessoas mais inteligentes do que eu… mas ninguém tem a pele mais grossa, nem a experiência que eu tenho.”
Questionado sobre a natureza das possíveis sanções dos EUA sob Trump, Bolsonaro mencionou as sanções norte-americanas ao petróleo da Venezuela. Em seu primeiro mandato, Trump empregou uma campanha de “pressão máxima”, com sanções econômicas e apoio direto à oposição venezuelana em uma tentativa fracassada de destituir Maduro.
“Trump também está muito preocupado com a Venezuela e discutiu comigo formas de devolvê-la à democracia”, disse Bolsonaro.
A ala conservadora do Brasil também incentivou Trump a anular o visto americano do ministro do Supremo Tribunal, Alexandre de Moraes, que comandou extensas investigações criminais contra Bolsonaro e seu grupo político – uma solicitação considerada favoravelmente por uma parcela da nova gestão norte-americana, de acordo com fontes familiarizadas com a questão.
Elon Musk, um aliado próximo de Trump, tornou-se um dos maiores detratores de Moraes após o ministro ter bloqueado a rede social Twitter/X no Brasil por mais de um mês este ano. A razão para o bloqueio foi a recusa em suspender contas de direita acusadas de disseminar “discurso de ódio”.
Um porta-voz de Moraes se recusou a falar com o Wall Street Journal. A deputada norte-americana María Elvira Salazar (R., Flórida) chamou o juiz brasileiro de “a vanguarda de um ataque internacional contra a liberdade de expressão,” exibindo uma foto de Moraes ao apresentar um projeto de lei com o deputado Darrell Issa (R., Califórnia) em setembro para negar entrada nos EUA a qualquer autoridade estrangeira acusada de ameaçar a liberdade de expressão.
Avanços do Judiciário
O texto ainda expõe que, “empoderado por uma Constituição ampla que dá aos ministros do Supremo Tribunal brasileiro a opção de atuar como procuradores, juízes e jurados, Moraes tem reprimido apoiadores de Bolsonaro depois do incidente de 8 de janeiro de 2023 em Brasília”.
Desde então, ele determinou a detenção de mais de mil indivíduos, mencionando a “proteção da democracia”. Moraes e aqueles que o apoiam acreditam que uma estratégia severa é imprescindível em um país que voltou à democracia após a ditadura militar quatro décadas atrás. No entanto, há quem o acuse, inclusive alguns especialistas em direito, de abuso de autoridade judicial.
Em um documento recente com cerca de 900 páginas, que descreve a investigação dos ataques ocorridos em 8 de janeiro, Bolsonaro foi acusado pela polícia de liderar uma “conspiração criminosa” para bloquear a posse de Lula em janeiro de 2023.
Bolsonaro rejeita a acusação de ter agido além dos parâmetros constitucionais, defendendo que apenas colocou em questão o resultado de uma eleição que acreditava ser injusta e que tinha como objetivo controlar seguidores entusiasmados.
“Eles caíram matando em cima de mim,” disse ele, sobre seus apoiadores mais radicais. “Me chamaram de covarde”.
As informações são da Revista Oeste