O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) apresentou um projeto de lei que altera as regras para as eleições ao Senado, limitando o eleitor a votar em apenas um candidato, mesmo quando duas vagas estão em disputa no estado. A proposta, que aparece em meio às articulações de Jair Bolsonaro para formar uma maioria conservadora na Casa, é vista como uma tentativa de golpe político para barrar a oposição.
Interferência nas regras eleitorais
Atualmente, o sistema permite que os eleitores escolham dois candidatos em eleições onde dois terços do Senado são renovados. Com a mudança, os votos conservadores, geralmente concentrados em Bolsonaro e seus aliados em estados de perfil mais à direita, seriam divididos. O efeito prático seria impedir que um único espectro político ocupe as duas vagas, mesmo em locais onde a direita tem ampla maioria.
A justificativa de Randolfe é que a medida promoveria maior pluralidade política, mas a proposta soa como uma interferência direta para minar estratégias legítimas da oposição. Trata-se de alterar as regras do jogo em pleno andamento, o que pode ser interpretado como um ataque à democracia.
O alvo é Bolsonaro
Bolsonaro já deixou claro seu plano para 2026: eleger uma maioria no Senado para aprovar pautas como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Para isso, pediu que senadores conservadores priorizem suas reeleições e anunciou a intenção de lançar seus familiares, como Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro, para disputar cadeiras na Casa. O projeto de Randolfe, nesse contexto, parece ser uma resposta para dificultar essa estratégia.
Golpe disfarçado de reforma
A proposta de Randolfe Rodrigues não é neutra. Enquanto o senador alega defender a diversidade, o momento em que a medida é apresentada e seus impactos práticos levantam sérias dúvidas. Alterar as regras eleitorais para beneficiar um grupo político específico, em detrimento de outro, é uma violação direta do princípio da igualdade de condições no processo democrático.
Além disso, mudar as regras para atender a interesses de curto prazo é um precedente perigoso. Se aprovado, o projeto enfraquecerá a confiança na integridade do sistema eleitoral, reforçando a percepção de que as instituições podem ser manipuladas para conter adversários políticos.
Manipulação do sistema eleitoral
O movimento de Randolfe segue uma lógica preocupante: quando a oposição ganha força, mudam-se as regras para manter o controle. Essa prática, longe de ser democrática, representa uma tentativa de golpear a soberania popular, interferindo diretamente na formação das bancadas do Senado.
Ao atacar a estratégia de Bolsonaro, o projeto ameaça subverter o princípio básico do sistema democrático: o respeito à vontade da maioria. Mesmo que as mudanças sejam apresentadas sob o pretexto de ampliar a representatividade, na prática, elas buscam enfraquecer o direito dos eleitores de escolherem livremente seus representantes.
O projeto de Randolfe Rodrigues configura uma tentativa de golpe político disfarçada de reforma eleitoral. O Senado, como uma das instituições centrais da República, deveria ser protegido de manobras que busquem limitar a oposição. A mudança nas regras eleitorais para o Senado, nesse contexto, não é apenas inoportuna — é antidemocrática.