A Polícia Federal (PF) revelou, por meio de áudios interceptados, um esquema de desvio de recursos de emendas parlamentares destinadas à saúde no município de Choró, no sertão do Ceará. As gravações, obtidas em setembro de 2024, indicam o envolvimento de políticos e empresários em práticas ilícitas ligadas ao orçamento secreto, incluindo suspeitas sobre o deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara.
Em 13 de setembro, o empresário Carlos Douglas Almeida Leandro enviou um áudio ao então candidato a prefeito de Choró, Carlos Alberto Queiroz Pereira, conhecido como Bebeto. No áudio, Leandro propôs o desvio de recursos de uma “emenda de comissão” apadrinhada por José Guimarães. Parte dos recursos seria usada para alimentar um suposto caixa dois.
Leandro indicou que o esquema foi articulado por Ilomar Vasconcelos, vice-prefeito de Canindé, e que os recursos poderiam ser destinados a saúde, infraestrutura, pavimentação ou saneamento. Bebeto demonstrou interesse exclusivo na saúde, mas condicionou o acordo a uma reunião com Guimarães.
Poucos dias depois, Bebeto enviou outro áudio a Adriano Almeida Bezerra, secretário parlamentar do deputado Júnior Mano, mencionando o desvio de até 12% de uma emenda de R$ 1,5 milhão. Bezerra concordou com o plano.
Desvio de Recursos e Implicações
A emenda de R$ 1,5 milhão, aprovada meses antes pela Comissão de Saúde da Câmara, destinava-se a Choró, mas R$ 180 mil foram desviados, segundo as investigações. Em novembro, o celular de Bebeto foi apreendido, fornecendo provas que fundamentam o inquérito.
Após as eleições, Bebeto foi preso em novembro por suspeita de desvio de recursos e compra de votos. Tornou-se foragido em dezembro, o que levou à sua destituição antes da posse, com o cargo sendo assumido interinamente por Paulo George Saraiva, presidente da Câmara de Vereadores.
Envolvimento de Líderes e Decisões Controversas
O presidente da Câmara, Arthur Lira, sancionou a Lei Complementar nº 210 em novembro, formalizando as emendas de comissão e transferindo aos líderes partidários a decisão sobre sua destinação. A lei resultou na alocação de R$ 4,2 bilhões, incluindo R$ 5 milhões para Choró, sob descrições genéricas que levantaram suspeitas.
Pouco antes do Natal, o ministro do STF Flávio Dino suspendeu os pagamentos de emendas, citando “degradação institucional”, mas liberou parcialmente os recursos para atender ao piso da saúde.
A investigação, agora sob relatoria do ministro Gilmar Mendes no STF, segue em andamento. A assessoria de José Guimarães negou qualquer relação com Adriano Bezerra. Júnior Mano e o advogado de Bebeto não se manifestaram até o momento.