A possibilidade de uma desvalorização ainda maior do real em 2025 acendeu um sinal de alerta no mercado financeiro. Segundo um relatório do BTG Pactual, fatores internos ligados ao risco fiscal e à condução da política econômica podem levar o dólar a ultrapassar a marca de R$ 7,00 nos próximos anos. No cenário mais adverso traçado pelo banco, a moeda americana poderia encerrar 2025 a R$ 7,10 e alcançar R$ 7,30 no ano seguinte.
Fatores Internos Pressionam o Real
De acordo com a economista Iana Ferrão, do BTG Pactual, a recente desvalorização do real é explicada, em grande parte, por fatores internos que continuarão a impactar o câmbio em 2025. No cenário base, o banco projeta o dólar a R$ 6,25 no final de 2025 e R$ 6,35 no fim de 2026. No entanto, caso as incertezas fiscais e econômicas se intensifiquem, a moeda americana pode subir ainda mais.
“Ações que contornem o Orçamento, intensifiquem mecanismos parafiscais, minem a credibilidade da política monetária ou envolvam intervenções no mercado cambial tendem a pressionar ainda mais o câmbio, podendo levá-lo a ultrapassar a barreira de R$ 7,00 por dólar”, alerta Ferrão em seu relatório.
Em um cenário positivo, por outro lado, o BTG acredita que o dólar pode encerrar este ano a R$ 5,20, caso o governo implemente medidas que reforcem o compromisso com a sustentabilidade fiscal e estabilizem a trajetória da dívida pública.
70% da Depreciação do Real Está Ligada a Fatores Domésticos
Utilizando um modelo que considera moedas de países emergentes e exportadores de commodities, Ferrão calcula que os fatores internos explicam cerca de R$ 0,90 por dólar do nível atual do câmbio, representando mais de 70% da depreciação recente.
“Esse resultado reflete, sobretudo, o aumento das preocupações do mercado quanto à sustentabilidade da dívida pública no longo prazo e à condução da política econômica nos próximos trimestres”, explica a economista.
Superávit Comercial e Demanda Doméstica
Apesar do cenário desafiador, Ferrão projeta um aumento no superávit comercial do Brasil, que pode chegar a US$ 87 milhões em 2025. Esse número seria impulsionado por fatores como:
- Maior crescimento da safra agrícola;
- Expansão significativa da produção de petróleo;
- Depreciação cambial superior a 25%;
- Forte desaceleração da demanda doméstica, que deve cair de 5,2% em 2024 para 1,9% em 2025.
No entanto, mesmo com o expressivo superávit comercial e o ingresso de divisas pelo segmento comercial, a economista alerta para a possibilidade de o fluxo cambial não ser positivo, repetindo o padrão observado no ano passado.
Saída de Recursos Pelo Segmento Financeiro
Ferrão também chama atenção para a continuidade de saídas significativas de recursos no segmento financeiro. Em dezembro de 2024, por exemplo, o Brasil registrou o maior volume histórico de saída de dólares nesse segmento, o que mais do que compensou o ingresso recorde de recursos pelo fluxo comercial ao longo do ano.
Como resultado, o fluxo cambial líquido acumulado em 2024, que até novembro era positivo em quase US$ 10 bilhões, acabou fechando o ano em US$ 18 bilhões negativos. Esse cenário, se mantido, pode continuar pressionando o câmbio em 2025.
Dólar Acima de R$ 7: Risco Real?
O relatório do BTG Pactual reforça que a trajetória do câmbio dependerá, em grande parte, das decisões do governo brasileiro em relação ao ajuste fiscal e à política econômica. No pior dos cenários, a falta de credibilidade e o aumento do risco fiscal podem levar o dólar a patamares recordes, ultrapassando R$ 7,00 por dólar.
Por outro lado, medidas que sinalizem responsabilidade fiscal poderiam ajudar a reverter as expectativas do mercado e trazer maior estabilidade ao câmbio.