Conflito entre Brasil e EUA é antecipado pelo The Wall Street Journal
A decisão da Procuradoria-Geral da República (PGR) de proibir Jair Bolsonaro de deixar o Brasil para participar da cerimônia de posse do presidente reeleito dos Estados Unidos, Donald Trump, já começa a gerar repercussões internacionais. O tema foi destaque no The Wall Street Journal (WSJ) nesta quinta-feira, 16, que previu um possível confronto diplomático entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a futura administração de Trump.
“O líder de esquerda do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, está se encaminhando para um confronto diplomático com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, por causa da recusa do Brasil em permitir que seu antecessor de direita, Jair Bolsonaro, compareça à posse de Trump”, escreveu o WSJ.
Passaporte apreendido e acusações contra Bolsonaro
A Polícia Federal apreendeu o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro devido à suspeita de envolvimento em um suposto plano de golpe de Estado em 2022, enquanto ele estava de férias em Orlando, nos EUA. A decisão de impedir sua saída do Brasil foi reforçada pelo procurador-geral Paulo Gonet, indicado ao cargo por Lula. Segundo Gonet, “a solicitação não evidencia interesse público” e Bolsonaro não exerce nenhum cargo que justifique sua presença na cerimônia.
O ex-presidente recebeu o convite para a posse diretamente de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Bolsonaro, por sua vez, classificou as acusações contra ele como uma tentativa de perseguição política: “Estão tentando me humilhar… me pintar como o pior criminoso do mundo”, afirmou em entrevista ao WSJ.
O dilema de Lula: permitir ou não a viagem de Bolsonaro
A negativa ao pedido de Bolsonaro cria um dilema diplomático para o presidente Lula. De acordo com o WSJ, liberar a viagem poderia enfraquecer as acusações contra o ex-presidente e abrir margem para críticas de que o governo está recuando em questões jurídicas. Por outro lado, proibir a saída de Bolsonaro pode agravar as relações já tensas com a futura administração de Trump, que assume o poder em meio a uma postura crítica em relação à gestão de esquerda de Lula.
A equipe de posse de Donald Trump confirmou que Bolsonaro foi convidado oficialmente para o evento. Enquanto isso, analistas políticos sugeriram ao WSJ que o Supremo Tribunal Federal (STF) pode simplesmente adiar a decisão até que não haja mais tempo hábil para que Bolsonaro compareça à cerimônia. Contudo, qualquer desfecho apresenta desafios para o governo brasileiro, seja na esfera diplomática, seja no campo político interno.
Bolsonaro: “Alguém já ouviu falar de golpe de Estado na Disney?”
Em entrevista, Bolsonaro voltou a criticar as restrições impostas à sua liberdade de viajar e fez declarações polêmicas sobre o caso. “Isso beira o ridículo; alguém já ouviu falar de alguém tentando dar um golpe de Estado na Disney?”, ironizou o ex-presidente, referindo-se ao fato de estar em Orlando no período das acusações.
O ex-presidente, que está inelegível até 2030, acredita que Donald Trump poderia auxiliá-lo em uma eventual retomada de influência política, possivelmente através de sanções econômicas contra o governo de Lula. Bolsonaro e Trump compartilham visões alinhadas em diversos temas, o que fortaleceu a relação entre ambos durante seus respectivos mandatos.
Relações entre Lula e Trump já começam tensas
O WSJ apontou que as dificuldades entre Lula e a futura administração Trump não se limitam ao caso de Bolsonaro. A situação é agravada pelas ações do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que ordenou recentemente o bloqueio temporário do Twitter/X no Brasil, plataforma gerida por Elon Musk e amplamente usada por aliados de Trump.
De acordo com o jornal norte-americano, a postura de Lula em relação ao caso Bolsonaro pode ser interpretada como um teste para as relações diplomáticas entre Brasil e EUA. Com os EUA sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil, decisões como essa têm o potencial de impactar diretamente os interesses econômicos e políticos de ambos os países.