
O jornal O Estado de S. Paulo, em editorial publicado nesta sexta-feira, 17, não poupou críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a revogação da normativa da Receita Federal sobre o Pix. Classificando o ato como uma “demonstração de covardia”, o veículo argumenta que o governo deveria ter sustentado a medida caso acreditasse que ela era realmente benéfica.
“Ao ceder facilmente à pressão das redes, o presidente da República mostrou-se incapaz de defender até mesmo suas decisões mais comezinhas, como era o caso desta”, afirmou o jornal. “Isto é, Lula deu claros sinais de que já não governa – ao contrário, é governado.”
A Influência de Nikolas Ferreira e o Recuo do Governo
De acordo com o Estadão, não importa se a intenção de Nikolas era levantar um debate legítimo ou simplesmente explorar politicamente o temor de pequenos empreendedores de terem sua renda fiscalizada. O impacto de seu vídeo, com mais de 200 milhões de visualizações, fala por si só. “O espírito de sua mensagem chegou com força ao mundo real”, destacou o editorial.
Além disso, o veículo apontou uma ironia: o parlamentar mineiro, segundo a análise, provavelmente gastou muito menos dinheiro para produzir seu vídeo do que o governo investiu em esforços para “contra-atacar a boataria”, mas foi “infinitas vezes mais bem-sucedido”. “Isso aconteceu porque ninguém mais acredita no governo”, concluiu.
Medidas Insuficientes e Desorganização
Para o Estadão, o governo teria escolhido o caminho errado para enfrentar as críticas. O veículo argumenta que, se o objetivo fosse combater o discurso da oposição, o governo deveria ter adotado medidas claras para conter os gastos públicos e demonstrar um compromisso real em reduzir a pesada carga tributária que recai sobre os brasileiros.
Embora os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) tenham dado sinais de tentar seguir essa direção, os esforços foram prejudicados pelos “imperativos eleitoreiros do lulopetismo”.
“O governo, no entanto, prefere continuar a passar vergonha”, afirmou o jornal. O texto destacou que o governo não apenas revogou a normativa da Receita de forma “atabalhoada”, mas também editou uma medida provisória para garantir que o Pix não será taxado — algo que já estava previsto na legislação atual.
Assim, o uso de uma medida provisória — instrumento com força de lei e reservado para situações de urgência e relevância — foi considerado pelo Estadão apenas uma resposta “ao burburinho das redes sociais”.
Falta de Projeto e Perda de Direção
O editorial finaliza com uma análise contundente sobre a liderança de Lula neste terceiro mandato: “Parece claro que Lula, outrora demiurgo, está a reboque dos acontecimentos e se limita a reagir a eles de maneira confusa e desorganizada.” Para o jornal, o presidente não apresenta um projeto claro para o país.
“Venceu a eleição com o discurso de que era necessário impedir a vitória de Jair Bolsonaro e o avanço das forças antidemocráticas, mas, uma vez no poder, viu-se refém de uma conjuntura muito mais espinhosa do que a de seus mandatos anteriores e hoje parece perdido – e incapaz de impor a sua versão dos fatos”, conclui o texto.