Os Correios enfrentam um momento crítico e atrasaram parte dos salários referentes a janeiro, especialmente para funcionários em São Paulo. O problema ocorre em meio ao risco de “insolvência” da estatal, que registrou um prejuízo de R$ 2 bilhões até setembro de 2024.
Diante da situação, o sindicato que representa os trabalhadores no estado protocolou um ofício cobrando explicações da direção da empresa.
“Diversos trabalhadores procuraram esta entidade sindical, relatando a falta de pagamento no último dia do mês e os prejuízos que isso acarretou aos empregados. Muitos atrasaram seus aluguéis, financiamentos, contas de energia e água, todas essas contas gerando multas e juros”, afirmou Elias Cesário de Brito Junior, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo (Sintect-SP).
O sindicato também destacou o impacto do atraso em famílias com crianças com necessidades especiais, que ficaram sem acesso a medicamentos.
“Algumas trabalhadoras relataram que não conseguiram comprar os remédios para seus filhos com necessidades especiais, demonstrando uma verdadeira falta de respeito com essas famílias”, acrescentou Brito Junior.
A entidade cobrou “providências urgentes” para a regularização dos pagamentos, a fim de evitar novos prejuízos aos trabalhadores e possíveis medidas judiciais.
Motivos do Atraso
Em resposta ao Poder360, os Correios alegaram que o problema foi causado por “inconsistências” em algumas rubricas e dados bancários desatualizados, afetando 124 pagamentos.
No entanto, o sindicato contesta o número apresentado pela estatal e já anunciou que pretende entrar com uma ação para garantir o cumprimento do acordo trabalhista.
A centralização dos serviços de Recursos Humanos em Minas Gerais também foi alvo de críticas do Sintect-SP, que argumenta que São Paulo e Rio de Janeiro concentram o maior número de funcionários da estatal.
Correios em Crise: Déficit Bilionário e Risco de Insolvência
Os Correios registraram o maior prejuízo de sua história para o período de janeiro a setembro, acumulando um déficit de R$ 2 bilhões. Esse valor se aproxima do pior resultado anual da empresa, de R$ 2,1 bilhões, registrado em 2015, durante o governo Dilma Rousseff.
Diante do quadro financeiro alarmante, a estatal impôs um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões, o que inclui encerramento de contratos e suspensão da contratação de terceirizados.
“Tais medidas visam, fundamentalmente, recompor o saldo orçamentário/caixa para retomada do equilíbrio econômico-financeiro e evitar que a empresa entre em estado de insolvência”, afirma um documento interno da empresa.
Atualmente, os Correios são presididos pelo advogado Fabiano Silva dos Santos, indicado pelo grupo Prerrogativas, conhecido por sua oposição à Lava Jato. Fabiano também ganhou notoriedade por sua proximidade com o presidente Lula, sendo apelidado de “churrasqueiro de Lula”.
Principais Motivos da Crise
O prejuízo dos Correios tem diversas causas, entre elas:
- Desistência em ações trabalhistas: A estatal abriu mão de processos que somam aproximadamente R$ 1 bilhão.
- Redução de receitas com importações: A criação da chamada “taxa das blusinhas”, que taxou compras internacionais abaixo de US$ 50, teria impactado negativamente a receita da empresa em R$ 1 bilhão ao reduzir o volume de encomendas enviadas ao Brasil.
A estatal justificou a situação afirmando que a projeção de receita para 2024 foi reduzida de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões. Por outro lado, as medidas administrativas adotadas reduziram as despesas projetadas de R$ 22,5 bilhões para R$ 21,9 bilhões, representando uma economia de R$ 600 milhões.