
Roedores Treinados para Combater o Tráfico de Vida Selvagem: Uma Solução Inovadora e Econômica
A batalha contra o comércio ilegal de animais selvagens acaba de receber um novo e inusitado reforço: os ratos gigantes africanos. Com um faro aguçado e capacidades de aprendizado acelerado, esses roedores, que podem atingir até impressionantes 70 centímetros, estão sendo preparados para identificar produtos como “chifres de rinoceronte”, “marfim de elefante”, “escamas de pangolim” e até mesmo certos tipos de madeira, objetos frequentemente contrabandeados e ocultos em cargas disfarçadas. Este treinamento representa uma inovação com grande potencial para auxiliar na luta contra o tráfico ilegal de animais, que põe em risco a biodiversidade e fomenta crimes ambientais globais.
O projeto, que foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos APOPO, baseada na Tanzânia, contou com a participação de apenas 11 ratos. O treinamento consistiu em familiarizar os ratos com os odores dos produtos contrabandeados e premiá-los ao identificarem corretamente os aromas. Além disso, os ratos foram instruídos a desprezar os cheiros utilizados para ocultar o odor dos produtos ilegais, como pó de café e cabos elétricos. O método provou ser bastante eficaz, com 8 dos 11 ratos sendo capazes de distinguir os odores específicos entre outras 146 substâncias.
Durante uma fase avançada da instrução, os roedores iniciaram o uso de um colete vermelho com um pequeno globo. Ao identificarem um odor específico, os ratos moviam o globo com suas patas, ativando um alarme audível que alertava seus instrutores. Este sistema de aviso inteligente é uma das características mais revolucionárias e cruciais do projeto, fornecendo precisão e simplificando a interação entre os roedores e seus manipuladores durante uma potencial situação real de procura.
A utilização desses roedores poderia proporcionar uma alternativa mais acessível e flexível em relação aos cães farejadores, que envolvem gastos mais significativos com transporte, alimentação e cuidados gerais. Ademais, os ratos são capazes de alcançar espaços mais restritos, como contêineres de carga repletos, onde cães de grande porte, a exemplo dos pastores-alemães e labradores, normalmente empregados para essa função, encontrariam grandes obstáculos. O principal benefício desta operação reside na relação custo-eficácia, tendo em vista que muitas nações impactadas pelo comércio ilegal de animais silvestres possuem recursos escassos para combater essa espécie de delito.
O comércio ilegal de animais é considerado um dos maiores mercados clandestinos globais, cuja estimativa gira em torno de 7 a 10 bilhões de dólares anuais, conforme informado pelo departamento de segurança dos Estados Unidos. Esse tipo de comércio não só provoca um impacto ambiental catastrófico, mas também fortalece as redes de criminalidade organizada, as quais frequentemente se envolvem em diversas outras atividades ilícitas, incluindo o tráfico de drogas e armas. A implementação de iniciativas como a mencionada, poderia aumentar a eficácia da fiscalização em portos e aeroportos, pontos estratégicos para a entrada de produtos contrabandeados.
Mesmo que o projeto ainda esteja em fase experimental, os cientistas preveem que, eventualmente, esses roedores possam ser incorporados em larga escala de maneira eficaz não apenas na luta contra o tráfico de animais selvagens, mas também no tráfico de drogas e armas.