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Diretor do banco central diz que “inflação vai piorar antes de melhorar”

Nilton David alerta para período de desafios econômicos e justifica aumento dos juros

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Nilton David, afirmou na última sexta-feira (21) que a inflação no Brasil deve piorar antes de começar a ceder e que os próximos meses serão desafiadores para a economia. A declaração foi feita durante uma live organizada pelo Bradesco BBI.

“A gente entende que os próximos meses vão ser desafiadores. A inflação vai piorar aos 12 meses antes de melhorar. Existe defasagem na política monetária. A gente tem uma boa convicção de que a gente estava contracionista (estratégia que consiste em desacelerar a economia por meio de elevação dos juros) antes da última alta, e que a gente está mais contracionista agora”, disse David.

O diretor explicou que a meta da inflação será atingida dentro do horizonte relevante, que é o terceiro trimestre de 2026.

Juros Altos Como Medida de Controle da Inflação

O Banco Central tem apostado em elevações consecutivas da taxa Selic para conter a inflação.

Em dezembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros em 1 ponto percentual, passando de 11,25% para 12,25%, e indicou mais duas altas da mesma magnitude.

Em janeiro de 2025, o Copom cumpriu a previsão e aumentou a Selic para 13,25%, com mais uma elevação esperada para março. No entanto, o diretor não deu sinais sobre uma possível nova alta em maio.

“Não é um forward guidance (indicação dos próximos passos da autoridade monetária) adicional”, afirmou David. “A reunião de maio é a reunião de maio, não tem nada (decidido), não se fala nisso ainda.”

David, que foi indicado ao BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a autoridade monetária espera um arrefecimento da atividade econômica, mas garantiu que isso não será o motivo para parar o ciclo de alta dos juros.

“O esperado é que a atividade arrefeça”, disse. “Não vai ser a (baixa) atividade que vai fazer com que a gente diminua o nível de juros. Vai ser a percepção e a convicção de que está afetando o nível de inflação, o processo desinflacionário. Nossa meta é a inflação, obviamente que a atividade tende a ser um dos canais de transmissão.”

Ele reforçou que o Banco Central monitora um conjunto amplo de dados antes de tomar decisões, incluindo o mercado de trabalho.

Inflação Acima da Meta e Risco de Estouro em 2025

Embora a inflação esteja dentro do intervalo permitido, ainda permanece acima do centro da meta, girando ao redor de 4%.

A meta do Banco Central é 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%).

Em um relatório divulgado em dezembro de 2024, o Banco Central alertou que a chance de a inflação estourar a meta em 2025 subiu de 28% para 50%. Além disso, especialistas projetam aumento da inflação para os próximos anos (2025, 2026, 2027 e 2028).

“Acho que o grande desafio vai ser a gente ver essa inflexão da inflação, que não vai acontecer nos próximos meses. Não é o esperado. A incerteza é grande”, declarou David.

Alta “Preventiva” da Selic Não É o Caminho

Durante a live, David também descartou um novo aumento preventivo da Selic baseado apenas em riscos futuros.

“Não é sem custo ficar com a política monetária apertada, longe disso”, explicou. “Subir os juros preemptivamente por algo que talvez aconteça não parece a política mais adequada quando já se está com juros restritivos.”

No entanto, ele garantiu que o BC não hesitará em continuar elevando os juros, se necessário:

“Acho que não tem nenhuma dúvida que o Banco Central vai ajustar os juros se for necessário.”

Ao final, David enfatizou a importância da política monetária para o controle da inflação:

“Vou deixar bem claro: a política monetária funciona. Ponto. Então, se o vento de proa vai ser forte o suficiente para diminuir a força com que eu empurro, é outra história. Se vai haver outras coisas que vão fomentar crescimento nesse ínterim, é uma outra discussão.”

E concluiu:

“Se esse grupo aqui (presente na live) está meio que São Tomé, que tem de ver para crer, isso vai ser um processo mais demorado. O que não facilita muito a atividade do Banco Central, obviamente, mas é o que é. A gente trabalha com os dados de entrada e responde dessa forma.”

Com essa declaração, David reforçou a postura do Banco Central de agir com cautela e firmeza para controlar a inflação, mesmo diante de um cenário de incerteza econômica.

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