
Ao menos cinco pessoas ligadas a políticos do PT foram nomeadas para coordenar um programa da Usina de Itaipu, com orçamentos milionários e salários de R$ 20 mil mensais. O levantamento foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.
A iniciativa, chamada “Governança Participativa para a Sustentabilidade — Itaipu Mais que Energia”, prevê o repasse de R$ 76,5 milhões entre dezembro de 2023 e 2027.
Petistas no Comando do Programa
Criado em 2023, o Itaipu Mais que Energia funciona como um guarda-chuva para centenas de convênios, financiando projetos socioambientais.
Um dos convênios de destaque é com o Instituto Athus, parceiro da Central Única das Favelas (Cufa) no Paraná. No âmbito do programa, a iniciativa “BioFavela” promove atividades educacionais, culturais e esportivas para crianças e jovens.
Uma compra específica chamou atenção: em outubro de 2024, o Athus adquiriu 3,1 mil bolas ao custo de R$ 200 cada. A quantidade representa quase três bolas para cada criança atendida.
Entre os nomeados ligados ao PT estão:
- Enio Verri – Diretor-geral de Itaipu e ex-deputado federal pelo PT. Eleito para um terceiro mandato em 2022, renunciou para assumir o cargo na usina.
- Bruno Goretti Tresse – Ex-assessor do deputado petista Arilson Chiorato, presidente estadual do PT e líder da oposição na Assembleia do Paraná.
- Arieto Conceição Alves – Ex-integrante da equipe do vereador petista Angelo Vanhoni.
- Rosselane Liz Giordani – Ex-secretária de Cultura de Toledo, ligada ao deputado federal Elton Welter (PT).
- Élio Marques – Ex-assessor de Enio Verri e, posteriormente, de Elton Welter.
- Florisvaldo Raimundo de Souza, conhecido como Floris do PT, ligado à presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann.
- Silvana Vitorassi – Assessora da diretoria da Usina, funcionária de carreira que acompanha o programa. Ela é amiga de longa data da primeira-dama Rosângela da Silva (Janja) e integrou a equipe de transição do governo Lula 3.
Os Acordos e a Ligação com o PT
O convênio foi firmado com o Parquetec, antiga Fundação Parque Tecnológico de Itaipu. Seu diretor de Negócios, Eduardo de Miranda (Pinta), foi chefe de gabinete do deputado petista Arilson Chiorato (PR).
Embora o Parquetec seja uma instituição privada e sem fins lucrativos, seus diretores são nomeados pela gestão da Usina, levantando questionamentos jurídicos.
Em 2023 e 2024, a empresa firmou 28 convênios com Itaipu, totalizando quase R$ 500 milhões. Destes, 33% foram destinados a serviços de terceiros e 28% a pessoal e encargos.
O programa inclui seminários, webinars e oficinas, com um gasto médio mensal de R$ 400 mil apenas em alimentação, totalizando R$ 7 milhões em quatro anos.
Expansão da Área de Influência e Tarifas Elevadas
Desde a chegada de Enio Verri ao comando da usina, a área de influência de Itaipu saltou de 55 para 434 municípios, abrangendo todo o Paraná e parte de Mato Grosso do Sul.
O financiamento desses projetos vem da tarifa de energia, cobrada obrigatoriamente dos consumidores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Em 2024, Itaipu destinou US$ 450 milhões (R$ 2,5 bilhões) para essas iniciativas.
Justificativa de Itaipu e Parquetec
Em nota enviada à Folha de S.Paulo, Itaipu e Parquetec afirmaram que os coordenadores foram contratados como pessoas jurídicas e selecionados pelo Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (Itai).
As empresas também esclareceram os valores pagos aos coordenadores, afirmando que os R$ 20 mil incluem despesas com deslocamento e alimentação.
A presença massiva de nomes ligados ao PT em cargos de alto salário dentro do programa, porém, levanta questionamentos sobre aparelhamento político e direcionamento de recursos públicos.