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“Lula quer baixar preços dos alimentos no grito”, critica Estadão

Jornal aponta que medidas do governo são paliativas e ineficazes contra a inflação

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta conter a inflação e recuperar sua popularidade com medidas que o jornal O Estado de S. Paulo classificou como “paliativas e inócuas”. Em editorial publicado neste sábado (8), o veículo criticou a decisão do governo de zerar o Imposto de Importação sobre alguns alimentos, alertando que a estratégia pode não surtir efeito e não resolver a alta dos preços.

Além disso, Lula adotou um tom mais agressivo ao falar sobre o aumento do preço dos ovos. Em evento no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Minas Gerais, o petista descartou que as galinhas fossem responsáveis e colocou a culpa nos “atravessadores”, ameaçando adotar uma “atitude drástica” caso não encontre uma solução para baixar os preços.

“Não encontrei uma galinha pedindo aumento no preço do ovo”, disse Lula nesta sexta-feira (7).
“A gente não quer brigar com ninguém, a gente quer encontrar uma solução pacífica. Mas, se a gente não encontrar, a gente vai ter que tomar uma atitude mais drástica, porque o que interessa é levar a comida barata para a mesa do povo brasileiro.”

Estadão questiona que tipo de “atitude drástica” Lula poderia tomar, lembrando que a história do Brasil já registrou tentativas de intervenção na economia para conter a inflação, com resultados desastrosos. Segundo o jornal, medidas arbitrárias podem gerar desabastecimento e instabilidade econômica.

“Na verdade, enfrentar a carestia requer austeridade, e não populismo”, afirma o editorial. “Certamente não será no grito, ameaçando produtores rurais e transportadores, que o governo terá sucesso em sua cruzada pela redução do preço dos alimentos, mas a estratégia parece ser unicamente a de mostrar que o governo fez tudo o que podia para ajudar os mais pobres – e que os culpados pela inflação são, claro, os outros.”

Governo adota isenção de impostos como tentativa de conter preços

Sem muitas alternativas, o governo decidiu reduzir o Imposto de Importação sobre alimentos, abrangendo produtos que tiveram aumentos expressivos, como carnes, café e açúcar. A isenção também incluirá milho, óleos vegetais, azeite, sardinha, biscoitos e massas alimentícias, mas ainda precisa ser aprovada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).

O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou que o governo pretende fortalecer estoques reguladores e financiamento de itens da cesta básica pelo Plano Safra. Além disso, pediu que governadores reduzam o ICMS sobre esses produtos.

Estadão vê essas medidas como um reflexo do desespero do governo diante da inflação, sem uma estratégia eficaz de longo prazo:

“O conjunto de medidas mostra o tamanho do desespero de um governo perdido e com um arsenal de medidas bastante limitado”, afirma o editorial.

O jornal também aponta que a isenção de impostos pode ter efeito nulo sobre produtos como carne, café e açúcar, pois o Brasil já é um dos maiores produtores mundiais desses itens. Em relação ao milho, que coloca o país atrás apenas dos Estados Unidos e China, os preços já são altamente competitivos, o que limita o impacto da importação.

“Impacto nos preços domésticos, se houver, será pouco relevante e não será sentido no curto prazo”, avalia o Estadão“Ademais, não há qualquer garantia de que a isenção de impostos seja repassada aos produtos, pois ela pode facilmente ser diluída ao longo da cadeia. Por fim, dificilmente os preços voltarão aos patamares anteriores.”

Inflação dos alimentos tem causas mais profundas

O jornal ressalta que a alta dos preços dos alimentos não se resume à tributação, sendo influenciada por fatores como mudanças climáticas e escassez global de produtos.

“A seca prejudicou o desenvolvimento das lavouras no país e houve quebra da safra de café em países como Vietnã e Indonésia – ou seja, a escassez é internacional”, observa o Estadão“No caso das carnes, a estiagem e as queimadas afetaram sobremaneira a formação das pastagens.”

O editorial conclui que as medidas adotadas pelo governo não resolverão o problema da inflação, enquanto a população sente os impactos diariamente nos supermercados:

“A população tem percebido, ao fazer suas compras nos supermercados, que a inflação tem afetado produtos e serviços de forma generalizada, como há tempos não se via, e tem cada vez menos paciência com os discursos de Lula – as pesquisas mostram que sua verve já não convence nem mesmo parte de seu eleitorado mais fiel, isto é, a população de baixa renda no Nordeste, região em que sua avaliação despencou”, analisa o jornal. “Mas podia ser pior. Felizmente, o governo não anunciou a taxação das exportações. Por enquanto.”

 

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