
O jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial contundente nesta sexta-feira (14), afirmando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um desgaste crescente porque representa um mundo que não existe mais. O texto critica a desconexão do petista com as transformações sociais e econômicas do Brasil e sugere que sua popularidade está em queda não apenas pela economia, mas também por sua retórica ultrapassada.
Lula não entende os novos tempos, diz editorial
Para o Estadão, a perda de apoio a Lula não se resume à inflação e ao aumento dos preços. O jornal argumenta que o presidente não consegue dialogar com a nova realidade da sociedade brasileira, onde a antiga classe trabalhadora deu lugar a um perfil mais independente e empreendedor.
“No mundo de Lula, por exemplo, havia algo a que se dava o nome de ‘classe trabalhadora’, cuja língua o ex-líder sindical falava com fluência”, afirma o editorial. “Hoje, essa classe acabou, e Lula não sabe falar o dialeto dos novos trabalhadores, que dispensam os sindicatos e exibem ares de empreendedores.”
Além disso, o jornal destaca que o machismo antes tolerado já não tem espaço na sociedade contemporânea e que Lula parece não ter percebido essa mudança.
“Do mesmo modo, no mundo de Lula os homens sentiam-se à vontade para fazer publicamente piadas machistas, já que as mulheres ainda não haviam conquistado espaços e direitos”, prossegue o texto. “Hoje, sugerir que uma mulher chegou a um lugar de poder só porque é ‘bonita’, e não por sua capacidade, é simplesmente inadmissível.”
Declaração sobre Gleisi Hoffmann reacende polêmica
O editorial menciona a recente fala de Lula sobre a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais, quando o presidente disse que escolheu uma “mulher bonita” para facilitar o diálogo com o Congresso.
“Uma coisa que eu quero mudar é estabelecer uma relação com vocês, por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais”, afirmou Lula durante um evento.
O jornal considera essa justificativa assombrosa e incompatível com os tempos atuais.
Falas de Lula sobre mulheres seguem um padrão
O Estadão critica os esforços para justificar a declaração de Lula e destaca que esse não foi um caso isolado, mas sim um padrão de comportamento do presidente. Entre os exemplos citados no editorial:
- Lula afirmou ser “amante da democracia”, justificando: “Amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres.”
- Ao comentar violência doméstica, disse que “depois do jogo de futebol aumenta a violência contra a mulher, mas, se o cara é corintiano, tudo bem.”
- Para uma mãe de cinco filhos, fez uma piada de gosto duvidoso: “Quando vai fechar a porteira, companheira?”
Marketing político não salvará Lula
A análise do jornal também aponta que, mesmo com medidas para promover mulheres em cargos de poder, isso não anula o impacto de suas falas espontâneas.
“Não haverá marketing eleitoral capaz de modernizar a imagem e catapultar a popularidade de um político que se mostra tão profundamente ignorante do mundo atual”, conclui o editorial.
Para o Estadão, o presidente enfrenta um cenário em que suas declarações o afastam da sociedade moderna, e sua retórica antiquada pode acelerar sua perda de apoio político.