
Diante da percepção de que Janja da Silva, primeira-dama e esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou alvo constante da oposição e da opinião pública, o governo estruturou um grupo informal de contenção de danos, internamente apelidado de “bunker de proteção”. O objetivo é oferecer suporte jurídico, político e comunicacional para evitar que a exposição de Janja comprometa ainda mais a imagem do governo.
Mesmo após sinais de recuo em fevereiro, Janja voltou à cena pública com viagens internacionais, desconsiderando alertas internos sobre o desgaste de sua imagem e o impacto negativo para o presidente Lula. A primeira-dama foi ao Japão dias antes do presidente e já tem confirmada sua participação na Cúpula Nutrição para o Crescimento, que acontece em Paris, entre os dias 26 e 30 de março.
Composição do “bunker” inclui AGU, Gleisi, Lindbergh e Prerrogativas
O grupo de apoio à primeira-dama reúne o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), além de integrantes do grupo de advogados Prerrogativas, coordenado por Marco Aurélio de Carvalho.
A atuação é dividida por frentes:
- Jorge Messias acompanha processos e representações contra Janja em instâncias como o TCU, o MPF e o Judiciário. Uma dessas ações, que pedia a retirada de Janja do Palácio do Planalto, foi arquivada no dia 14 de março.
- Gleisi e Lindbergh atuam na defesa política e no enfrentamento de críticas nas redes sociais.
- O grupo Prerrogativas tem como papel central proteger a imagem institucional de Janja e promover articulação com setores da sociedade civil.
A avaliação interna é que a oposição estaria conduzindo uma “ação coordenada” contra a primeira-dama, com um nível de hostilidade superior ao que normalmente atinge figuras anteriores na mesma posição.
Mudança de postura parcial: menos exposição, mas viagens mantidas
Diante da pressão crescente, aliados próximos relatam que Janja reconsiderou algumas posturas públicas e se comprometeu a concentrar suas aparições em temas considerados essenciais, adotando um tom mais discreto. No entanto, essa mudança não se aplica às viagens internacionais, que seguem sendo autorizadas pelo próprio presidente Lula.
Em 15 de março, Janja viajou ao Japão com a equipe precursora da presidência. Durante a visita, participou de uma agenda ligada à COP30, que será sediada em Belém (PA), e de um evento cultural na embaixada brasileira em Tóquio. A programação foi conduzida com discrição, e o governo não divulgou previamente detalhes das atividades.
A viagem à Cúpula Nutrição para o Crescimento, em Paris, também está confirmada. Por outro lado, Janja abriu mão de ir a Nova York, onde representaria o Brasil na 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher, evento vinculado à ONU. A decisão teria sido tomada para evitar novos desgastes.
Tentativas frustradas de institucionalizar papel da primeira-dama
A ideia de criar um gabinete formal para Janja voltou a ser cogitada no ano passado, mas não avançou. O temor entre ministros é que a institucionalização da função possa abrir caminho para que a primeira-dama seja convocada a dar explicações formais no Congresso.
Na última sexta-feira (21), Gleisi Hoffmann defendeu a formalização de um cargo simbólico:
“Eu defendo sim, que tenha um cargo honorífico. Ela não vai receber nada. Porque é importante para que ela possa prestar contas, falar. Eu não vejo problema nenhum.”
Gleisi ressaltou que Janja, por ser “a companheira do presidente”, tem um “peso social importante” e deveria ter “condições de atuar” de forma oficializada.
Janja recua nas redes sociais e enfrenta rejeição crescente
Na tentativa de reduzir a exposição negativa, Janja fechou seu perfil no Instagram, sob justificativa de que estava sendo alvo de “comentários de ódio e misóginos”. Aliados relataram que a primeira-dama passou a fazer postagens mais criteriosas, com maior seletividade nos temas abordados.
Mesmo assim, há receio de que o recuo seja apenas momentâneo. Em 2023, Janja chegou a ser cotada como uma das possíveis lideranças femininas do PT para atuar em campanhas eleitorais municipais, mas ficou afastada das movimentações nos palanques.
Gafe diplomática e queda na popularidade
A crise de imagem da primeira-dama se agravou após o episódio ocorrido durante o G20 Social, em novembro passado, quando ela se referiu ao empresário Elon Musk com um “fuck you” durante um painel oficial. A atitude provocou constrangimento diplomático, e Lula precisou intervir no dia seguinte:
“Não se pode ofender ninguém”, declarou o presidente.
A rejeição à figura de Janja aumentou. Segundo pesquisa AtlasIntel/Bloomberg de fevereiro, 58% dos brasileiros têm imagem negativa da primeira-dama — em outubro, esse índice era de 40%.
A queda de sua popularidade acompanha o desgaste do governo: pesquisa Ipsos-Ipec indica que 41% dos brasileiros avaliam o mandato de Lula como ruim ou péssimo, enquanto apenas 27% consideram a gestão boa ou ótima.