Inflação explode na coreia do norte e moradores precisam de mochila para levar dinheiro
Alta de preços também ocorre após o governo ter promovido, em janeiro de 2023, um aumento salarial significativo

Os habitantes da Coreia do Norte estão lidando com um aumento significativo nos custos de bens essenciais, devido à falta de suprimentos e à desvalorização do won norte-coreano em relação ao yuan chinês e ao dólar americano. A moeda local sofreu uma desvalorização nos mercados não oficiais, o que resultou em um aumento substancial no custo de vida, conforme relatado pela Radio Free Asia (RFA).
“Os preços de mercado saltaram pelo menos duas vezes e, em alguns casos, mais de cinco vezes”, disse um morador da província de Yanggang, sob condição de anonimato. “Agora, em vez de levar uma bolsa de dinheiro para o mercado, as pessoas literalmente têm que trazer uma mochila cheia de dinheiro.”
Na ausência de liberação oficial de índices de inflação ou informações de preços ao consumidor pelo governo da Coreia do Norte, o tamanho da inflação é indicado por relatos de residentes e comparação com preços de anos anteriores.
O preço de um quilo de óleo de girassol, comumente usado para cozinhar, subiu de aproximadamente 25.000 wons (equivalente a R$ 162, conforme a ferramenta de conversão do Banco Central do Brasil) para 75.000 wons (ou R$ 486) no espaço de dois anos. Enquanto isso, o açúcar viu um aumento de 10.000 wons (R$ 65) para 40.000 wons (R$ 260), e a carne de porco de um pouco menos de 30.000 wons (R$ 195) para 87.000 wons (por volta de R$ 563) por quilo. Considerando que as notas de 1.000 wons (R$ 6,49) são as mais frequentemente utilizadas em transações cotidianas, a compra de um quilo de açúcar, por exemplo, requer o manuseio de 40 cédulas.
O problema crônico de falta de alimentos na Coreia do Norte é notório. De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, a produção agrícola do país é insuficiente para atender as demandas alimentares da população, devido à insuficiência de terras cultiváveis, à ausência de fertilizantes e à falta de equipamentos agrícolas avançados. A situação é ainda mais agravada por colheitas insatisfatórias e os efeitos das paralisações causadas pela pandemia de COVID-19.
Diante da instabilidade alimentar, alguns indivíduos estão recorrendo a ações drásticas. No mês anterior, a RFA informou que membros militares norte-coreanos estariam comercializando equipamentos militares a fim de adquirir alimentos. A emissora, em agosto de 2023, também divulgou um crescimento de delitos violentos associados à fome.
Impacto dos aumentos salariais
A elevação dos preços aconteceu após o governo ter implementado, em janeiro de 2023, um reajuste salarial expressivo. Os vencimentos mensais básicos foram elevados de 2.000 wons (aproximadamente R$ 13) para 30.000 wons (R$ 195). Segundo relatos locais, a iniciativa tinha como propósito motivar os cidadãos a se sustentarem com seus salários governamentais, ao invés de procurar ganhos em mercados alternativos, como os jangmadang — mercados informais frequentes em todo o país.
Na realidade, a inflação absorveu rapidamente o aumento salarial. Itens essenciais, como “sal” e “ovos”, experimentaram reajustes parecidos. Um quilo de sal, que custava 500 wons (R$ 3,25), aumentou para 2.000 wons. O preço de uma caixa de ovos saltou de 800 wons (R$ 5,20) para 2.000 wons, segundo os moradores.
Também houve um aumento no preço dos calçados: um par de tênis da “Fábrica de Calçados de Sinuiju”, que anteriormente custava em torno de 19.800 wons (R$ 129), agora está sendo vendido por até 170.000 wons (aproximadamente R$ 1.104) no mercado negro.
“À medida que os salários aumentaram, também aumentaram os preços de todas as outras necessidades. Em vez de melhorar a subsistência das pessoas, o aumento salarial apenas tornou a vida diária ainda mais difícil”, disse um morador à RFA.