
A crise na comunicação do governo Lula (PT) voltou à tona nesta terça-feira (8), com a saída da ex-secretária de Políticas Afirmativas do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Márcia Lima. Ao pedir demissão do cargo, a ex-integrante da pasta comandada por Anielle Franco não poupou críticas ao modo como a administração federal divulga as ações dos ministérios — especialmente os voltados a temas sociais.
“O problema não é a comunicação do ministério, eu acho que é a comunicação do governo sobre o ministério. E também sobre alguns ministérios, não somente o MIR [Ministério da Igualdade Racial]” – declarou Márcia à Folha de S.Paulo.
Lima, que agora assumirá a Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que o atual modelo de divulgação oficial vai na contramão do próprio slogan do governo, “União e Reconstrução”.
Fragmentação e excesso de ministérios comprometem articulação
A ex-secretária também responsabilizou a estrutura inchada do governo, que conta com mais de 30 ministérios, pelo fraco desempenho em ações integradas entre as pastas. Segundo ela, o excesso de divisões administrativas atrapalha a articulação de políticas públicas eficazes e sufoca pautas transversais como as da Igualdade Racial.
“O nosso limite de negociação, de possibilidade, de construção com os outros ministérios tem um teto. […] Por ser um governo com muitos ministérios, isso dificulta a construção dessas pautas transversais. Em algum momento, eu saí mapeando com quem eu devia dialogar.”
A fala explicita o desafio de articulação interna enfrentado por gestores que atuam em áreas consideradas periféricas dentro do governo, revelando uma estrutura disfuncional que esvazia a atuação de parte da máquina pública.
Secom tenta minimizar críticas e defende atuação institucional
Diante da repercussão, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) emitiu nota afirmando que o governo “tem trabalhado para promover a integração e o alinhamento da comunicação entre os diversos órgãos da gestão”. O comunicado ressaltou que a prioridade da Secom é dar visibilidade às entregas e aos resultados concretos.
“Nosso foco é mostrar, de forma transparente, as ações do governo, as políticas públicas em andamento e como elas impactam a vida dos cidadãos” – afirmou a Secom.
Apesar da nota oficial, a debandada de Márcia Lima soma-se a uma série de críticas internas à comunicação federal, que levou o presidente Lula a substituir o petista Paulo Pimenta pelo publicitário Sidônio Palmeira há cerca de três meses. A troca, no entanto, ainda não surtiu os efeitos esperados.
Um sintoma da desorganização estrutural
A saída de Márcia Lima reforça uma crítica recorrente de aliados e opositores do governo: a ausência de um planejamento claro de comunicação, a falta de unidade entre as pastas e o abandono de temas considerados “secundários” pelo núcleo duro do Planalto. Ao admitir que “precisava mapear com quem dialogar”, a ex-secretária expõe uma burocracia confusa e ineficiente, que desmobiliza políticas públicas essenciais e as torna invisíveis à população.
A entrevista também evidencia a frustração de integrantes da base do próprio governo com a condução de áreas sensíveis, revelando um mal-estar que não se limita à oposição. Em vez de “união e reconstrução”, como propõe o slogan, a prática parece ser de fragmentação e apagamento institucional.