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Ministros do STF reagem a críticas internacionais e admitem “desconforto” com exposição da Corte

Reportagem da The Economist e questionamentos em eventos no exterior aumentam pressão sobre a suprema corte

A recente reportagem da revista britânica The Economist, que criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) por supostos excessos e alertou para uma crise de confiança crescente, repercutiu entre os próprios ministros da Corte. Conforme apuração do jornal O Estado de S. Paulo, os questionamentos vindos do exterior — especialmente após o episódio da extradição negada do jornalista Oswaldo Eustáquio pela Espanha — acentuaram o desconforto interno entre os magistrados.

Um dos pontos centrais da crítica internacional é o protagonismo judicial que o STF tem assumido em temas sensíveis e de grande repercussão política, o que estaria, segundo a The Economist, desgastando a imagem de imparcialidade do tribunal. O veículo destacou ainda o “poder concentrado” em decisões monocráticas — com ênfase no ministro Alexandre de Moraes — e sugeriu que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro ocorra no Plenário, e não em uma das turmas da Corte, para preservar a credibilidade institucional.

Clima muda no STF: de aplausos internacionais à desconfiança externa

Segundo ministros ouvidos pelo Estadão, houve uma mudança de percepção. Se antes o tribunal era elogiado por “conter uma tentativa de golpe” após os atos de 8 de janeiro de 2023, hoje há questionamentos acadêmicos e diplomáticos sobre os limites da atuação do Judiciário.

Um dos ministros reconheceu uma “mudança de ares” e avaliou que o tempo decorrido desde os eventos de 8 de janeiro reduziu o chamado “apelo punitivista” — ou seja, o clamor por punições severas que, inicialmente, justificava decisões duras.

Durante um evento com estudantes brasileiros da Universidade de Harvard e do MIT, no dia 12 de abril, o ministro Gilmar Mendes foi interpelado sobre a conduta do STF e se a Corte estaria ultrapassando seus limites constitucionais.

Moraes no centro do mal-estar

Um outro ministro do Supremo relatou à reportagem que as críticas externas aumentaram o mal-estar interno, principalmente com relação à postura de Alexandre de Moraes, considerado linha-dura nos processos contra bolsonaristas. O magistrado afirmou que há receio de perda de credibilidade nas decisões do tribunal, especialmente quando estas são percebidas como “excessivamente personalizadas”.

Outro integrante da Corte relativizou as críticas da The Economist, dizendo que elas expressam opiniões de setores econômicos que apoiaram Jair Bolsonaro e já criticavam o STF antes. No entanto, ele admitiu que tais reações precisam ser consideradas com atenção.

Publicação da revista inglesa | Foto: Reprodução/ The Economist

Episódios simbólicos alimentam debate

O mesmo ministro comentou que a direita brasileira tem sabido capitalizar politicamente decisões judiciais controversas. Como exemplo, mencionou o caso da cabeleireira Débora Rodrigues, condenada por escrever com batom “Perdeu, Mané!” na estátua da Justiça durante os atos de invasão do STF. Para o ministro, o caso foi usado como símbolo para impulsionar a proposta de anistia no Congresso, mas criticou: “Anistia não é para raia miúda”.

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