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Alcolumbre age para travar CPI dos correios, apesar de rombo bilionário na estatal

Pedido para investigar perdas avança, mas presidente do Senado tenta barrar leitura em plenário

Mesmo diante de um cenário alarmante nos Correios, com prejuízos bilionários e queda de receita, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tem atuado nos bastidores para impedir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apuraria os problemas de gestão e os contratos da estatal. A denúncia foi publicada por um site de notícias e confirmada por líderes da base governista.

O requerimento para abertura da CPI, protocolado pelo senador Márcio Bittar (União-AC) em fevereiro, já conta com 32 assinaturas, número superior às 27 exigidas pelo regimento interno do Senado. Ainda assim, Alcolumbre estaria se valendo do controle da pauta para evitar que o pedido seja lido em plenário — passo fundamental para a instalação da comissão. “Não há vontade política sobre a leitura desse requerimento”, revelou um líder governista.

Nomeações políticas alimentam suspeitas

O movimento de resistência à CPI coincide com a nomeação de Hilton Rogério Maia Cardoso para a Diretoria de Negócios dos Correios, área considerada estratégica na empresa pública. Hilton é apadrinhado por Alcolumbre e assumiu o cargo em março, após passagem pela superintendência da Codevasf no Amapá, reduto político do presidente do Senado.

A diretoria ocupada por Hilton tem alto poder orçamentário, o que levanta dúvidas sobre o interesse em blindar a gestão da estatal contra investigações parlamentares. Para membros da oposição, a ligação direta entre o indicado de Alcolumbre e uma área sensível dos Correios reforça a necessidade de apuração.

Senadores retiram apoio após pressão

A movimentação já surtiu efeitos práticos. A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) retirou sua assinatura do pedido de CPI, e, segundo parlamentares, a decisão teria sido motivada por pressão direta de Alcolumbre. A estratégia visa enfraquecer o apoio ao requerimento, apesar da gravidade do cenário financeiro da estatal.

Bittar estuda acionar o STF

Diante do bloqueio político, a equipe de Márcio Bittar cogita acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o cumprimento do regimento e a leitura imediata do requerimento em plenário. O precedente mais próximo foi a CPI da Covid, quando o Supremo interveio para assegurar a instalação da comissão mesmo contra a vontade do então governo.

Correios acumulam prejuízos alarmantes

Enquanto a crise política se agrava, os Correios enfrentam perdas crescentes. A estatal registrou R$ 600 milhões de prejuízo em 2023, após rombo de R$ 770 milhões em 2022. No primeiro semestre de 2024, o resultado negativo já chega a R$ 1,35 bilhão, o que representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A queda de 2,5% nas despesas não compensou a perda de receitas, que passaram de R$ 22 bilhões para R$ 21,6 bilhões. O desempenho negativo reforça suspeitas sobre possíveis problemas na gestão, nos contratos e no uso político da estatal.

Oposição vê tentativa de blindagem e conflito de interesses

Para opositores, a resistência de Alcolumbre em liberar a CPI revela uma tentativa clara de blindagem institucional e conflito de interesse, considerando sua ligação direta com a direção dos Correios. Ao impedir o avanço da comissão, o presidente do Senado fere o princípio da fiscalização parlamentar e compromete a transparência pública.

Em meio à crise financeira e política, a situação dos Correios se transforma em um caso emblemático do uso político de estatais, escancarando a dificuldade de se apurar responsabilidades mesmo diante de indícios robustos de má gestão.

 

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