
O relatório final da Polícia Federal (PF) aponta que o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, nomeado em 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atuou para interferir em investigações e perseguiu servidores do órgão.
Corrêa é acusado de tentar impedir o andamento das apurações sobre o uso ilegal do sistema First Mile, caso conhecido como “Abin paralela”. Ele teria buscado proteger o então diretor de Operações de Inteligência, Paulo Maurício Fortunato, nomeado posteriormente por Corrêa para a Secretaria de Planejamento e Gestão da Abin.
A PF afirma que Corrêa já exercia influência dentro da Agência desde fevereiro de 2023, mesmo antes de sua nomeação oficial em maio, e tinha conhecimento de ações ilegais ocorridas na gestão anterior, como suposta instrumentalização da Abin em relação ao sistema eleitoral.
Reunião para obstruir investigação e controlar narrativa
Segundo a PF, Corrêa participou de uma reunião em março de 2023 com Fortunato e Alessandro Moretti, então diretor-adjunto, onde foi elaborada uma estratégia para dificultar a investigação federal e tentar centralizá-la na esfera administrativa da Abin e no STF:
“Prometeu-se que uma sindicância interna seria ‘suficiente para a Polícia Federal’, buscando substituir a apuração criminal por um procedimento administrativo controlado internamente”, afirma o relatório.
“Estabeleceram-se ‘acordos e entendimentos internos’, criando-se uma comissão para ‘participar das decisões junto com a direção-geral’ e ‘construir uma estratégia de defesa em conjunto’, visando unificar discursos e impedir colaborações espontâneas.”
Corrêa e outros diretores também teriam promovido a narrativa de que a investigação da PF era politicamente motivada.
Assédio e perseguição à corregedora
A então corregedora da Abin, Lidiane Souza dos Santos, foi alvo de assédio moral e retaliações por apoiar a investigação da PF e da CGU. O relatório aponta que Corrêa chamou a Corregedoria de “bandalha” e defendeu uma intervenção agressiva na unidade.
“A insatisfação com aqueles que colaborassem com a presente investigação era devidamente exposta pelo Diretor Geral da Abin”, destaca o documento.
“A intervenção realmente ocorreu com a sucessão da unidade por José Fernando de Moraes Chuy.”
A equipe de Lidiane teria sido perseguida e alvo de um dossiê preparado por Chuy. Um servidor relatou, sob sigilo, que Corrêa teria minimizado violações de sigilo funcional afirmando: “às vezes temos que ir até o limite do precipício”.
Indiciamento de Corrêa e crimes atribuídos pela PF
Corrêa foi indiciado pela PF por obstrução de investigação sobre organização criminosa, prevaricação e coação no curso do processo. Segundo o relatório, ele:
- Teve participação ativa em estratégia de afastar a PF das apurações;
- Recusou-se a fornecer provas;
- Omitiu nomes de usuários do sistema First Mile;
- Deixou de impedir operações ilegais sob sua gestão;
- Utilizou assédio moral para intimidar servidores.
As ações teriam beneficiado interesses próprios e de terceiros.