
O fenômeno do crime organizado, que antes se limitava às páginas de notícias policiais, agora adquiriu uma nova magnitude no centro financeiro do Brasil. Na área da Avenida Faria Lima, em São Paulo, há uma sensação de inquietação entre executivos, banqueiros e investidores devido à crescente influência do PCC (Primeiro Comando da Capital) e do CV (Comando Vermelho). Os participantes de encontros corporativos estão tentando entender como essas gangues podem impactar o mercado. Durante almoços e reuniões, os empresários estão avaliando os possíveis riscos para seus empreendimentos.
Empresários da Faria Lima possuem procuração em comum
Uma preocupação é compartilhada por empresários, gestores de fundos estrangeiros e economistas. Eles identificam frequentemente lacunas na legislação que permitem a infiltração de atividades criminosas. Essa presença criminosa, além de ameaçar os lucros dos que operam legitimamente, compromete a estabilidade regulatória. Existe o receio de que, caso grandes empresas de São Paulo falhem, os prejuízos possam se propagar por todo o território nacional.
O controlador do grupo Cosan, Rubens Ometto, acredita que o crime organizado está gerando uma competição desleal sem precedentes. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele menciona que as facções criminosas estão penetrando em diversos setores e expandindo rapidamente. De acordo com operações policiais, foram identificadas atividades ilícitas em áreas como o mercado de combustíveis, transporte público e privado, imóveis, saúde, limpeza urbana, coleta de lixo e até mesmo no sistema financeiro. Um inquérito revelou a presença de indivíduos associados ao PCC em agências responsáveis por gerir carreiras de artistas, que não tinham conhecimento da situação.
“O crime organizado, de todas as vertentes e tamanhos, está entrando com tudo numa série de setores, criando concorrência desleal para quem trabalha na legalidade”, disse Ometto.
O Gaeco percebeu, pelos seus promotores, que o comportamento das facções mudou com a pandemia da covid-19. Tais organizações começaram a estabelecer empresas legítimas, contratando advogados especializados e participando de licitações. Foi revelado pela “Operação Fim da Linha” que o PCC tinha controle sobre empresas de ônibus que transportavam diariamente centenas de milhares de passageiros em São Paulo.
Facções usam fundos de investimento para lavar dinheiro
Antes de ser morto na entrada do Aeroporto Internacional de Guarulhos, o empresário do setor imobiliário, Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, revelou como as facções utilizavam fundos de investimento para “lavar dinheiro”. Ele detalhou táticas complexas que envolviam recursos tanto de investidores comuns quanto de criminosos.
Advogados de escritórios importantes expressam preocupação de que seus clientes possam acabar negociando com empresas que são secretamente controladas por facções criminosas. A complexidade das estruturas corporativas torna difícil determinar quem realmente está no comando dessas empresas. No setor de combustíveis, práticas históricas de adulteração e evasão fiscal já causavam prejuízos. Agora, a participação de organizações criminosas intensifica as investigações.
A ameaça de proporções nacionais é percebida pela Procuradoria-Geral da República. A ideia de constituir um Gaeco Nacional, com a capacidade de organizar as medidas de enfrentamento ao delito econômico, foi apoiada por Paulo Gonet. A Febraban expressou sua posição e exigiu a aceleração de prazos para que as fintechs possam se adequar às normas do Banco Central.
O presidente do BID, Ilan Goldfajn, acredita que a luta contra o crime deve seguir o padrão de combate ao terrorismo. A tática envolve o rastreamento da fonte de fundos, a interrupção do fluxo e a prevenção de que organizações criminosas mantenham operações camufladas como negócios legais. Ele descreve essa medida como “cortar o oxigênio do crime”.
As informações são da Revista Oeste