
O Sistema de Posicionamento Global (GPS), que se tornou indispensável para a navegação, logística e até mesmo para aplicativos do dia a dia, é, como o próprio nome indica, um sistema de alcance global. Mantido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, ele opera através de uma constelação de satélites que cobrem todo o planeta, transmitindo sinais ininterruptamente. Mas a pergunta que surge é: ele poderia ser “desligado” ou restrito a um país como o Brasil?
A essência global e as nuances do controle
Por sua concepção, o GPS foi feito para ser universal. Os satélites enviam sinais constantemente, permitindo que qualquer receptor com visada para o céu os capte e calcule sua posição. No entanto, a ideia de uma interrupção regional não é totalmente descabida, embora complexa e com implicações sérias.
Historicamente, os EUA tinham a capacidade de degradar intencionalmente a precisão do sinal GPS para uso civil através da função “Selective Availability”, o que garantia uma precisão superior apenas para fins militares. Essa função foi desativada em 2000, tornando o GPS mais preciso para todos. Ainda assim, em cenários extremos, como conflitos armados, técnicas como o “jamming” (interferência) ou “spoofing” (falsificação) de sinais poderiam ser empregadas para bloquear ou enganar receptores em uma área específica. Isso não significaria “desligar” o sistema, mas sim criar um ambiente onde ele não funcionaria adequadamente.
Qualquer tentativa de restringir o sinal GPS em uma região específica, como o Brasil, teria consequências geopolíticas e econômicas massivas. Não afetaria apenas o país-alvo, mas também a aviação civil, cadeias de suprimentos globais, agricultura de precisão e uma infinidade de serviços que dependem criticamente dessa tecnologia em todo o mundo. Especialistas apontam que tal ação seria extremamente difícil de ser isolada, podendo impactar outras nações e até mesmo o próprio território norte-americano.
A dependência do Brasil e a ascensão de outros GNSS
Atualmente, o Brasil, assim como grande parte do mundo, depende fortemente do GPS americano, não possuindo um sistema de navegação por satélite próprio. No entanto, o GPS não é o único sistema de navegação por satélite disponível.
A crescente preocupação com a soberania tecnológica levou diversos países a desenvolverem seus próprios Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS):
- GLONASS: O sistema russo.
- Galileo: Desenvolvido pela União Europeia.
- BeiDou: O sistema chinês.
Além desses, há sistemas regionais como o japonês QZSS e o indiano NavIC, que complementam os GNSS globais. A boa notícia é que a maioria dos dispositivos modernos, como smartphones, é compatível com múltiplos GNSS. Isso significa que, se o sinal de um sistema fosse comprometido, o aparelho poderia automaticamente buscar e utilizar os sinais de outros sistemas disponíveis para manter a navegação, oferecendo uma camada extra de resiliência.
Ainda assim, o debate sobre o controle de tecnologias globais como o GPS ressalta a importância de discussões sobre a infraestrutura digital e a segurança geopolítica na era da informação.
Da redaçãoFlavio Fontoura