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Refúgios Tradicionais Pantaneiros: Harmonia da Pastorícia Humana, Flora e Fauna Nativas

Um velho axioma conta que mudam os personagens, sempre mantendo o mesmo fundamento: Se você torturar números, eles sempre confessam o que você deseja…

Modernamente, quando uma pesquisa ou levantamento periódico de dados é feita com base em avanços tecnológicos — mesmo quando os próprios autores ressaltam que determinado mapa ou série não permite certas conclusões —, novos estudos acabam surgindo e, utilizando os mesmos dados, chegam a resultados conflitantes com os originais.

Dizíamos isso a respeito dos levantamentos do MapBiomas e de Stephen Hamilton, iniciados em 1985, nos quais novos pesquisadores constroem sofismas que jamais foram afirmados originalmente.

O mesmo ocorre com Aziz Ab’Sáber, estudioso do Pantanal, cujas conclusões foram reinterpretadas sob novos vieses ideológicos. No clássico Ab’Sáber – Bacia do Pantanal: Paleogeografia, ele escreveu:

“Causa grande preocupação, por último, a tendência para concentração das águas provenientes dos quadrantes ocidentais, nas vizinhanças das serranias fronteiriças, com deslocação marcada no sentido Norte-Sul do rio Paraguai, para essa área ocidental da grande depressão aluvial.

Devido à dificuldade de escoamento, reconhecida por todos os pesquisadores da hidrologia regional, é certo que um processo cumulativo de poluição hídrica vai afetar sobremaneira as águas das grandes planícies submersíveis existentes nessa porção centro-ocidental da região pantaneira.

Um maior controle das águas que entram no Pantanal mato-grossense, a partir das passagens subsequentes dos rios nascidos nos planaltos, parece ser uma medida inadiável para garantir maior integridade física, hidrogeoquímica e geoecológica da diversidade ecológica dos pantanais.”

O mestre anteviu a necessidade — hoje premente — de barragens nos planaltos para PCHs e da dragagem dos rios da planície.

Parece, no entanto, que muitas campanhas de ONGs, ao reavaliarem “cientificamente” essas ideias, concluíram o oposto. Vejamos o que Orlando Valverde afirmava sobre o mesmo Pantanal:

“É uma vegetação variada, mas que sempre denuncia uma estação seca pronunciada. Essa vegetação, tanto a flora quanto a fauna, é especialmente atraente.

A fauna do Pantanal é muito mais impressionante, em um só lugar, do que a da Amazônia inteira, pois numa área relativamente pequena vive uma quantidade impressionante, sobretudo de aves e animais selvagens convivendo com animais domésticos.

Uma convivência que deveria servir também de exemplo ao chamado homem civilizado, que é de uma estupidez enorme com os seus selvagens.

Na realidade, o Pantanal é uma convergência de domínios e refúgios de flora e fauna completamente distintos — daí a força de sua riqueza.”

Recentemente, uma ONG chamada Panthera Brasil parece ter estudado o modelo condominial das antigas fazendas pantaneiras e o incorporou em um projeto diametralmente oposto ao de suas congêneres locais ou sediadas no Mato Grosso do Sul.

“O Governo do Estado de Mato Grosso declarou, nesta quinta-feira (9), uma área de 45.932 hectares no município de Poconé como de interesse público, em caráter temporário, para a criação do Refúgio de Vida Silvestre da Onça-Pintada.

A decisão foi oficializada por decreto durante o Seminário Pré-COP 30 MT, realizado em Brasília, conforme divulgado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT).

A secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, explicou que as áreas contempladas — Porto Jofre Velho, São José Velho, Porto Jofre e Guatos 2 e 3 — tiveram a anuência dos proprietários rurais.”

Segundo a própria Panthera Brasil:

“A Panthera tem muito claro que a conservação da onça-pintada no Pantanal depende de sermos parceiros dos produtores rurais.

A questão da cultura pantaneira também valorizamos muito. Nossa abordagem com o refúgio é justamente ter uma área protegida e permitir a pecuária extensiva. Garantimos a integridade do habitat e seguramos a expansão de pousadas e parcelamentos de terra na parte final da Transpantaneira.

Dorileo, Jamil, Seu Celso, Elizeu… vão poder continuar soltando o gado na área, obviamente respeitando a capacidade de carga que já utilizam.

Porque a opção mais fácil para nós seria a RPPN, mas aí cairíamos na mesma armadilha da Ecotrópica e do Sesc, onde o manejo da área é muito limitado pela própria legislação.”

Agradeço os esclarecimentos do Dr. Ricardo Arruda, do Sindicato Rural de Poconé, que ilustrou bem como essa experiência merece ser tentada — já que poderá nos conduzir a um ressurgimento dos condomínios familiares, modelo coletivo que nos legou o Pantanal Sustentável Tradicional, encantando o mundo todo.

Sempre me entendi inspirado por uma anhuma; mas minhas últimas experiências em mesas de debate transformaram-me em um quati mundéu, que observa e acumula experiências em silêncio — ao contrário das anhumas, que gritam com alvoroço.

Exponho, portanto, o nome adequado caso a experiência vingue:
“Refúgio Pantaneiro Sustentável – Condomínio Porto Jofre.”

Certamente, vocês farão sucesso na COP 30, pois desde a COP 14 venho expondo — até aqui inutilmente — que:

“A IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza), cansada de subsidiar a florescente indústria do fogo, há anos tenta substituir o modelo tipo SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) pelos modernos OMECs (Outros Modelos Espaciais de Conservação), muito próximos do que seria o modelo de sustentabilidade empírica da pecuária tradicional do Pantanal.”

O Pantanal se impõe, não importando o nome: domínio, refúgio, condomínio, reserva de desenvolvimento sustentável ou outros métodos espaciais de conservação. O que importa é retomar as áreas incendiadas e abandonadas das antigas RPPNs da Ecotrópica, permitindo que as populações tradicionais da Barra do São Lourenço e da Comunidade do Amolar se libertem dos incêndios e de outras ameaças, retomando suas atividades de pastorícia e agricultura nas outrora produtivas Fazendas Penha e Acurizal.

Armando Arruda Lacerda Porto São Pedro
11/10/2025

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