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O soldado Lacerda

Colocado em excesso de contingente, aguardávamos, junto aos novos conscritos, à sombra dos flamboyants da antiga II Brigada Mista, a ficha para obter Terceira Categoria.

Eis que passa um avião, bem baixinho, imediatamente reconheci o Skylane novo de meu irmão Paulo Gustavo.

Passados alguns minutos, a modorrenta hora de final de expediente foi quebrada por toques frenéticos de corneta e um frenesi elétrico tomou conta de todos.

Algo evidentemente grave e fora da rotina ocorria!

De repente, uma das janelas de correr, de cima do prédio do comando abriu-se com um grande estrondo!

Uma voz poderosa ouviu-se: – “Quem é Lacerda aí?” Fiquei paralisado, e repetiu-se a voz: “Quem é Lacerda aí?”

Saí para a claridade tremendo, e levantei o dedo – Sou eu.

Lacerda! 20 pulinhos de galo, 20 polichinelos, 20 apoios para aprender a não pedir para sair do quartel! Sargento! Conscreva o insubmisso!”, tonitruou a voz e fechou-se a janela.

Pagando os castigos no sol de quase meio dia, entendi que destino me brindara com um ponto de mudança definitiva em minha vida, virara soldado!

Só a tarde, em casa de roupa nova, entendi o sucedido: naquele fatídico dia, um irmão de avião novo e outro Presidente do Sindicato Rural de Corumbá, haviam sido convocados pelo General Jansen para mostrarem a enchente que, naqueles dias de 1973, levara o Abobral a pique.

Ao pousarem no Aeroporto tiveram a infeliz idéia de ajudar o caçulinha fazendo tal pedido ao General, que obviamente tinha idéias muito pessoais a respeito desse tipo de demanda…

Milhares de pulinhos de galo, polichinelos e apoios depois, fiz grandes amigos tanto entre os outros recrutas como entre graduados e oficiais.

Mantive esse elo com todos que permaneceram em Corumbá como meu Comandante Capitão Mônaco e meus Sargentos instrutores Chaparro, Arany, Costa, Pécora, Aldo, Zé Boca e nosso oficial instrutor de 30 dias de Guerra na Selva Capitão Laurentino.

Aprendi no quartel a manejar de quaisquer veículos motorizados até lanchas, incluindo uns rudimentos de telegrafia com o inesquecível Sargento Daud.

Como não tinha Corpo de Bombeiros em Corumbá à época, fomos treinados nesse ofício, e após termos intervido com sucesso num princípio de Incêndio no Grande Hotel Corumbá, passamos por um novo treinamento mais completo como combatentes do fogo!

Isso talvez que me faça ficar remoendo inconformado os recentes incêndios no Pantanal e ficar oferecendo palpites não solicitados.

Outra lembrança boa era de prestar serviços aos estafetas de Coimbra, de onde recebia meus favoritos discos de chamamé da Cerro Corá, um deles o fleumático Cabo Santos, o Santinho, reencontrei como pároco da Igreja N.Sra. dos Remédios em Ladário.

Como o sucedido comigo, ele tinha um destino a cumprir, depois do Servico Militar, Santinho tornou-se Padre, e Lacerda foi tentar ser Pantaneiro!

Apesar do ano duríssimo pois motoristas habilitados eram severamente exigidos dia e noite, até hoje sigo usando o que aprendi, lamento cada amigo da farda, que o tempo levou.

Apesar de ter sido um desengonçado soldado, nunca admoestei meus irmãos pela presepada que aprontaram comigo, antes os abençôo pelo privilégio que, inadvertidamente, me concederam!

Se entrei errado, tenho certeza que saí da maneira certa, amando a Bandeira de meu País e tentando manter livre de saqueadores o nosso Pantanal, tarefa que nunca termina…

Pantanal! Selva! Soldado 119 Lacerda apresentando-se para o Serviço!

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

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