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O Jardim do Guia Lopes, laranjal da fronteira

Narra-nos o Visconde de Taunay, em suas “Memórias” sua paixão por localidades que hoje estão no Estado de Mato Grosso do Sul.

Da sua idílica paixão pela bela Antônia, compartilho sua descrição, de quando foi seduzido e inflamado por sua súbita aparição, às margens do Rio Aquidauana:

“- Era Antônia uma bela rapariga da tribo chooronó (Guaná propriamente dita) e da nação Chané.

Muito bem feita, com pés e mãos singularmente mimosas, cintura naturalmente acentuada e fina, rosto oval, cútis fina, tez morena desmaiada, corada levemente nas faces, olhos grandes rasgados, negro cintilantes, boca bonita ornada de dentes cortados em ponta, à maneira dos felinos.

Na frente, como é de rigor entre os índios, o chefe, atrás a mãe, dando a mão a um filhinho, e afinal Antônia, montada, esta, ou melhor escanchada (sic), num boi manso.”

Escusado dizer, que de seu entendimento com o pai da formosura, chamado Miguel Ângelo, ninguém mais o impediu de levá-la a enfeitar o seu rancho do acampamento no aprazível Porto Canuto.

Quando da retirada da Laguna, já em território brasileiro, foi o Guia Lopes que incentivou todos a sustentarem a marcha, infelizmente vindo a falecer antes de montarem acampamento à margem do rio, fronteiro ao fabuloso pomar de laranjas da fazenda, que o guia falara tanto e tanto, denominando-o de Jardim:

“-Deixem estar—dizia-nos a cada instante—, quando vocês chegarem ao meu laranjal. hão de matar a fome de uma vez.”

Eis eternizado o Jardim do laranjal fronteiriço, que junto a Coxim, Rio Negro, Taboco, Porto Canuto, Aquidauana, Miranda, Bela Vista, Guia Lopes (onde foi enterrado), Nioaque, e até Dois Irmãos, descrito como um dos primeiros pousos na rota por terra para São Paulo, trajeto que certamente fixou no Estado Brasileiro a necessidade da imprescindível ferrovia Noroeste do Brasil, para fortalecer Corumbá e levar segurança ao usufruto das riquezas dos fabulosos Pantanal e Província Mineral da Serra do Urucum…

Vagão restaurante Comendador Amantini de Bauru SP

Embarcar em dois fugazes projetos de distintas empresas para conectar a uma ferrovia já saturada, abrindo mão de cobrar a justa indenização da concessionária por sua estupidez de abandonar Bauru, verdadeira traição ao povo do centro geográfico multimodal do Oeste de São Paulo, que inexige desapropriações até nas partes urbanas do traçado e com pontes que são verdadeiras obras de arte perenes da engenharia brasileira , aproveitáveis qualquer que seja a bitola desejada.

Inesquecível bife a cavalo da NOB

Este velho pantaneiro, preocupado com a situação do Pantanal, à mercê de jejunos em história, traz de volta estas Memórias de quem, na crueza da guerra, narrou com leveza as condicionantes estratégicas geográficas, o heroísmo, o amor e a beleza do patriotismo dos antecessores que nos legaram estas fronteiras.

Talvez cientes de um possível plano B envolvendo a China, investidora na parte boliviana destas jazidas de minérios e nos portos de Ilo e Matarany no Pacífico peruano, confiantes no auxilio do colossal potencial de calcário e dos minérios ferrosos, barateando troca de dormentes e trilhos, convido a meditarmos na atualidade do Visconde de Taunay, como ele próprio resumiu nestas Memórias:

“-Seja-me, porém, lícito contar aqui ligeiros episódios, que não desagradarão ao leitor, repondo-o em épocas de animação e alegria, bem diversas do atual trecho da existência nacional, sorumbático, melancólico, cheio para todos de tristezas e apreensões.”

 Produção e direção do cineasta Cândido Alberto da Fonseca de clipe de Geraldo Roca para a música Santa Branca. Participação Tetê Espíndola!

Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro

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