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O Pantanal e a eucaliptização.

Na minha infância em Corumbá, havia no nosso quintal dois cascudos pés de eucalipto, que produziam frutos e sementes em pequenos piões, cultivados com o propósito de diminuir a umidade reinante na época da chuvarada, e acreditava-se, também ajudariam no saneamento das fossas sépticas.

Quando gripávamos, havia o medo de sermos medicados com injeções do enfermeiro cacerense “Seu Garcia”, chamado com sua valise plena de objetos de tortura pinças, seringas, álcool, fogareiro e… Ampolas verdes da doloridíssima Eucaliptine !

Pesquisas comprovaram modernamente que 1 pé de eucalipto usa toda a água disponível para turbinar seu crescimento, sua rapidez depende da alta disponibilidade desse insumo.

Se fossemos avaliar no Brasil, qual estado teria maior disponibilidade de água, certamente nosso mesopotâmico Mato Grosso do Sul, entre os mega rios Paraguai e Paraná, formadores da fabulosa Bacia Platina, com a Bacia do Pantanal na planície ao Oriente e a Bacia do Paraná entre planaltos ao Ocidente, originando a maior caixa d’água subterrânea do Continente Sul-americano, conhecida como Aquífero Guarani.

O crescimento do eucalipto, se medido a partir da precipitação anual , considerando que nem toda a água chega ao solo evaporando diretamente após poucos meses do crescimento das copas, a influência da velocidade do escoamento superficial dada a homogeneidade do plantio industrial, tudo contribuiria para reduzir tal recarga natural dos aquíferos subterrâneos…

Afinal, onde o Pantanal entra nessa história?

Necessário se faz um pequeno retorno no tempo, até tratados internacionais que impuseram e subsidiaram a incorporação do Bioma Cerrado, onde caso as terras não comportassem a agricultura objetivada pelo JICA, havia a opção de serem cultivadas com capins exóticos africanos, permitindo adensamento da pecuária tradicional.

O rico Pantanal nesse período, repleto de gado e gente, sofreu com um pulso de maiores chuvas agravado para um ciclo de décadas em consequência do desmatamento dos planaltos adjacentes, impondo verdadeira diáspora aos praticantes da pecuária tradicional, empobrecendo a planície ao financiar, a custo quase zero, a transferência para outros biomas do rebanho apertado pelas águas, verdadeiro saque ao longo do tempo, da consolidada atividade econômica regional…

Os pantaneiros relembram o passado não com despeito ou intenção vingativos, mas para que sirva de alerta ou uma autocrítica sincera quanto aos resultados dos que vivenciaram com arrogância, o triunfo econômico induzido externamente, se acham que é hora de novas coisas acontecerem, que o façam pelo menos jogando fora estas velhas idéias de superioridade da altitude serrana ao mirar o pantanal lá embaixo.

Estamos num ponto de mutação climática global, medidas cosméticas acentuando divisões no Pantanal, não tem o poder de trazer nada de novo para a Bacia do Pantanal que segue sendo um bioma único, mesmo que os rios assoreados induzam apressados a confundir um pulso de enchente normal, claramente advindas de precipitações normais, como o retorno do antigo ciclo de enchentes.

Há uma clara dissonância entre as conclusões científicas recém publicadas e os dogmas das narrativas até aqui vigentes, principalmente quando comprovam a origem neotectônica da Bacia do Pantanal e da aleatória ignição nos acúmulos irresponsáveis de combustível vegetal culminarem em repetidos incêndios devastadores.

Não partilhamos desejos que os “landlords” percam seus investimentos na planície, por acreditarem no colonialismo ambiental modelo africanizado, nem que os planaltinos sul-mato-grossenses abram mão do progresso econômico advindo da ampliação do maciço florestal dos exóticos eucaliptos, matéria prima das atraídas indústrias de celulose.

Insiste o Pantanal, entretanto em disponibilizar a oportunidade de compensar todas estas óbvias externalidades negativas, candidatando-se tanto a receber de volta os rebanhos e os trabalhadores tornados ociosos nessas imensas áreas eucaliptizadas, como compensar ambientalmente utilizando 100% das áreas pantaneiras dos praticantes da pecuária tradicional em pastos nativos.

O pisoteio e o forrageamento de herbivoros são parte integrante da sustentabilidade do Pantanal, por diminuição de combustível vegetal acumulado nas turfeiras e solo umido orgânico, dentro do ciclo natural do carbono .

O Pantanal expõe:”- Atentem que a escuridão fumarenta das incêndios nestas áreas úmidas, constituem-se de vapor de água elevando e transportando para a atmosfera todo tipo de componentes em seus aerossóis e os últimos terremotos em Corumbá e Poconé comprovam que a medida que se aliviam sedimentos e águas subterrâneas nos planaltos adjacentes,, esses tratos aliviados elevar-se-ão.

Caso insistam em ignorar tanto a fumaça sobre o continente sul americano oriunda dos incêndios recorrentes nas APPs dos latifúndios ambientalistas e os próprios tremores da Terra, estejam certos que no futuro, a natureza talvez venha a impor a necessidade de tais instrumentos de compensação e prestaçãode servicos ambientais, como os pantaneiros tão ousada e esperançosamente acreditam poder sugerir, pensando no mútuo benefício da mega Bacia Platina e de todo o Brasil.

Armando Arruda Lacerda

Porto São Pedro

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