
Uma das primeiras lições que as crianças pantaneiras recebiam era de jamais enfiar as mãos em ninhos de passarinhos, sejam os de massa barro, ou escavados em árvores secas, cupins ou ocos de árvores.
Era um ensinamento primordial, não brincar com armas de fogo e não bulir em ninhos onde não se pudesse ver o fundo.
O certo é que se contavam, após o jantar, histórias assustadoras de ninhos ocupados por cobras, como a de três irmãos que descobriram um ninho escavado numa velha bocaiuveira, originalmente ocupadas por papagaios e todos, uns após outros, meteram a mão e em vez dos filhotes de loros foram picados morrendo em seguida…
Só era permitido olhar os ninhos dos postes, conheço há décadas dois postes da beira da baía da Fazenda São Luiz , que tem ocos, e desde minha infância acomodam de tempos em tempos os migrantes cagasebos, galos da mata ou calandrias de três rabos, nas suas passagens pelo Pantanal.
Cascas de cobra são agregadas eventualmente na construção de um ninho, por que somente significam um material leve e inerte, destituídos de qualquetr periculosidade.
Numa mesma árvore, mesmo com toda sua belicosa coragem, os massa barro renovam seus ninhos a cada ano, pois sempre são invadidos por apressados migrantes, principalmente andorinhas…
A ignorância urbana pretensiosa e a falta de assunto tentam transformar quaisquer bichos em adoráveis pets manipuláveis como se fosse bonecos de pelúcia, situação oposta ao respeito que os pantaneiros devotam a todas as formas de vida.
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro