
CORDILHEIRA DOS DOIS ABISMOS
Não é estrada — é Cicatriz Luminosa:
O Pacífico, ancião de sal e memória,
Fecunda veias de granito e sombra,
Enquanto o Atlântico, fera verde e livre,
Canta mitos de raízes e vulcões.
Dois mares entrelaçam-se em abraço eterno
Sobre a espinha do continente desperto —
E a terra exala âmbar sob a lua.
I. DESERTO: ATHANOR DA TERRA
A areia não é pó — é pó de estrelas,
Onde camelos, fantasmas de constelações,
Cruzam leitos de oceanos petrificados.
Cada duna é um verso sânscrito do vento,
Cada véu, mapa de Atlântida em pirita.
Quem pisa a duna não avança: transmuta-se.
O deserto é o crisol onde o tempo vira ouro.
II. CUME: UROBOROS DE ASAS
No abismo, a cordilheira canta:
“Levanta-te, peregrino! Eu sou a coluna
Que sustenta o sonho do mundo!”
No cume, os oceanos fundem-se em serpente alada —
Jaguar azul de olhar estelar,
Cujo rugido é o pulso do magma,
Cujas asas são asas do tempo.
III. ESTRADA: SANGUE DE TITÃS
O asfalto? Não. É artéria do cosmos,
Por onde corre ferro de meteoros caídos,
Ouro que sonha em raízes profundas.
Cada curva é um nó no cordão umbilical da Terra,
Tecendo o Andrógino Primordial:
Pacífico — útero de névoa e espuma,
Atlântico — semente que fecunda o abismo.
EPIFANIA: PORTAL BIOCEÂNICO
Viajante! Ao cruzares o derradeiro pico,
Vê: a estrada não finda — renasce
Como lâmina de luz cortando a noite.
À frente, os oceanos dissolvem fronteiras
Num círculo de água, pedra e fogo:
Navios são serpentes aladas,
O horizonte — umbigo do novo mundo.
PROFECIA: O EIXO QUE DANÇA
Esta rota não liga terras — liga almas.
Quem a percorre rasga o Véu de Ísis:
Descobre que os abismos são um só coração.
Homem que pisas este Eixo do Mundo,
Tornas-te Ponte Viva entre céu e inferno —
Coluna que dança no peito do caos.
SELO FINAL
Só quando os oceanos se beijam no abismo,
O mundo revela seu segredo mais antigo:
Toda separação é espelho quebrado,
Toda jornada — regresso ao ventre da Luz.