
Na mais recente e chocante demonstração de como rancores mal resolvidos podem ter consequências… digamos… definitivas, a pacata (até então) colônia de formigas do Jardim Primavera viu sua rotina ser interrompida por um evento eleitoral de proporções apocalípticas. Movida por uma raiva aparentemente inextinguível em relação à sua vizinha cigarra, conhecida por sua despreocupação estival e vocais insistentes, uma formiga (cuja identidade permanece um mistério para os poucos sobreviventes, se é que houve algum) depositou na urna seu voto… no inseticida.
O resultado, caro leitor, foi um tanto quanto drástico. Não apenas a cigarra, que provavelmente estava afinando sua próxima serenata despreocupadamente, foi atingida pela onda tóxica. As próprias formigas, fervorosas eleitoras do extermínio alheio, também sucumbiram aos encantos letais do pesticida. E para completar o quadro dantesco, o grilo, aquele sujeito que sempre preferiu manter-se neutro nas disputas ideológicas do reino dos insetos e que, fiel à sua convicção, havia votado nulo, também teve seu protesto silencioso silenciado para sempre.
A cena pós-eleição é descrita por testemunhas oculares (algumas larvas e uma lagarta com tendências niilistas) como um verdadeiro festival de patas para o ar e antenas inertes. A outrora movimentada colônia de formigas agora jaz em um silêncio sepulcral, ironicamente parecido com o sossego que a formiga rancorosa tanto almejava, mas que agora desfruta em companhia da sua desafeta musical. O grilo, coitado, sequer teve a chance de reclamar do sistema eleitoral.
Moral da história? Talvez seja que o ódio cega, literalmente. Ou talvez que a abstenção, embora pareça segura, nem sempre nos protege das decisões extremas dos outros. Uma coisa é certa: a próxima eleição no Jardim Primavera promete ser… bem, inexistente. E tudo isso porque uma formiga não soube lidar com o barulho alheio. A democracia, meus amigos, às vezes tem dessas.
Da redação Midia News
Flávio Fontoura