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O Cangaceiro do Pantanal

Conta velha história da tradição oral do Pantanal, que houve uma época em que por aqui andavam quadrilhas de facínoras, imitando bando de cangaceiros a assaltar as fazendas.

Montados em fordecos modelo T tinham excelente mobilidade nas estradas do Pantanal, e portavam metralhadoras Thompson modelo lata de goiabada e também Parabeluns alemãs automáticas.

Costumavam reunir os moradores, fazerem sessões de humilhação principalmente aos patrões na frente dos empregados, mas tudo se findava com uma espécie de resgate, com o dinheiro calculado considerando objetos de luxo porventura à vista.

Normalmente as casas eram espartanamente mobiliadas, os objetos se resumiam a utensilios necessários, entre patrões e empregados poucas diferenças havia mesmo nas roupas…

Uma vez, sob o comando de um desses ferrabrases, reuniram numa varanda da casa grande, todos os moradores, sob a mira de metralhadoras e parabeluns e começou a sessão com o fazendeiro, tido e havido por ser ladino com cara de bobó…

Caminhando pela varanda e tirando baforadas num cigarro, o chefe abruptamente parou na frente do fazendeiro, encarou-o, tirou uma baforada e perguntou com voz tonitruante:

“- O senhor fuma?”

Pronta resposta voz cordata e respeitosa:

“-Eu? Não senhor, eu não fumo, mas se o senhor quiser que eu fume, eu fumo!”

Imediatamente, tirando um cigarro duma cigarreira de metal, passou ao patrão, que colocou nos lábios e aceitou em seguida a chama oferecida da binga acionada, eis que o fazendeiro olhos nos olhos, começou a fumar, soltando baforadas sem tossir.

Tonitruante, inquiriu novamente…

“- O senhor dança ?”

“- Não senhor, eu não sei dançar, mas se o senhor quiser que eu dançe, eu danço!”

E, enlaçando parceira imaginária, saiu arrodeando, esfregando ruidosamente os pés no ritmo, sem deixar de dar umas baforadas…

“-Pare!” ordenou e encarando-o novamente, troou em voz mais amena…

“-E por acaso, o senhor canta?”

“-Cantar? Eu? Não senhor, eu não sei cantar, mas se o senhor quiser que eu cante, eu canto!”

E, bem desafinado, entoou velho verso de cururu…

“-Avoa, avoa pombinha,
avoa, avoa sereno,
vai e assenta no jardim…”

“- Pare! determinou novamente o chefe, antes que a pombinha assentasse no jardim da morena, vai lá dentro e pega todo o dinheiro que o senhor tiver em casa!”

O fazendeiro foi lá dentro, dizem que escondeu a maior parte mas voltou com algum dinheiro na mão e a bolsa da mulher, entregou a bolsa para ela e falou :
“-Me dê aquele dinheiro que você guardou…”

Trêmula, ela abriu a bolsa tirou mais algum dinheiro, remexeu no fundo, catou umas moedas, e entregou tudo ao marido, que de imediato passou ao bandoleiro.

Aparentemente satisfeito, com mais alguns doces, uns nicolas que estavam enforcados em cima do fogão e bela e gorda manta de paleta, saiu para o pátio, deu uma rajada de tiros para cima, chamou os companheiros, montaram na fubica e, para alivio geral, mais um assalto do Bando do Baianinho se completara.

Isso tudo veio na minha cabeça, de madrugada, quando pensava nas dificuldades da crise que todos preveem, principalmente para a agropecuária.

Quem me dera saber tocar, cantar e dançar talvez merecesse algum dos benefícios da classe artistica, mas portador de inata semgracera para estas artes, me sobram estes meus escritos, em estilo garranchento moda cipó de arraia que acho que também me impossibilitariam de levantar quaisquer tipos de subsídios.

Que pelo menos se guarde um pouco dos causos da história oral do Pantanal, paga mais do que suficiente para manter viva a alegria que fazia este povo vencer dificuldades que hoje seriam intransponíveis.

Armando LacerdaPorto São Pedro

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