Acordado pela algazarra dos arancuãs no seu jogo de disputar qual grupo dobra os outros grupos, o novo dia amanhece pleno da gritaria, deparo-me com velha notícia que, como os incêndios, sempre retorna para assombrar pantaneiros.
A cada dois anos, nesta mesma época, vivemos a sessão de conhecermos a lista dos eleitores que podem mudar de seção eleitoral dentro desta mesma Comarca…
Debalde verifiquei que apesar dos pantaneiros estarem teoricamente vinculados a populações tradicionais nas exceções, isso não serve no Pantanal, mas aceitaríamos até mesmo sermos inscritos na Aldeia Guató da Ínsua, embora um pouco distante rio acima.
Estava pensando em falar com os parentes, o novo Cacique ou meu amigo Anizio Guató, quando parou a equipe médica que os atende na Aldeia, para ganhar forças para enfrentar as quatro longas horas de navegação até Corumbá.
O piloto da embarcação nos dá conta das dificuldades da boca da Anta e que o assoreamento agravado no acesso histórico do Canal Pedro Il às Lagoas Uberaba e Gahyva, poderá em breve impedir até mesmo o trânsito de “voadeiras”.
A taquarização do Rio Paraguai que já se aproxima celeremente do Canal Internacional do Bonfim na Baía de Mandioré, pois não sabemos até quando a Usina de Manso conseguirá sustentar a regularização das águas do sistema Cuiabá-São Lourenço, nos assombra ter que substituir esses acessos internacionais da Bolívia às águas do Rio Paraguai, por acessos por terra via Bolívia, para as comunidades brasileiras do Rio Paraguai poderem chegar a Corumbá.
Poucos anos separam o sequestro da navegação comercial dos comboios no Tramo Norte da Hidrovia Paraguai Paraná, bem como a obstaculização da retenção de sedimentos e de água para recarregar os Aquiferos dos cerrados de entorno, do Pantanal, conforme levantamento da ANA Agência Nacional das Águas, aferindo esse potencial por mini barragens para PCHs-Pequenas Centrais Hidreletricas, vítimas da notória interferência dos interesses de ONGs internacionais, através de milionária e permanente campanha midiática difamatória, tudo em nome de “protetores” e da “proteção ” do planície pantaneira.
Talvez tenhamos que acionar a NASA que afirma conhecer os efeitos do assoreamento dos rios brasileiros, para periciar estas áreas destruídas em nome da preservação, verdadeiro genocídio de comunidades pantaneiras e do Pantanal, culpadas por sua cultura ter originado a maior área sustentável por atividade econômica privada do planeta Terra.
Evidente que se fosse possível fazer uma Perícia Civil e Criminal para avaliar os “investidores” que pretendem monetizar a natureza do Pantanal, seria conveniente verificar o Código Penal Brasileiro sobre esse tipo de transação: “Art. 171-A. Organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras ou intermediar operações que envolvam ativos virtuais, valores mobiliários ou quaisquer ativos financeiros com o fim de obter vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. (Incluído pela Lei nº 14.478, de 2022) Vigência Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.478, de 2022).
Deixemos, por enquanto, expropriadores e espoliadores da tradicional produção do Pantanal, e voltemos às origens desta destruição acelerada dos rios e do próprio Pantanal, que atribuimos ter iniciado na cassação do direito ao voto dos pantaneiros, infelizmente, mais uma vez a omissão esgotará o prazo legal para inscrição nas urnas nas escolas da planície pantaneira.
Tavez se possa equiparar os que labutam e vivem na Planicie Pantaneira, para poderem usufruir até 22 agosto de 2024, da determinação do Tribunal Superior Eleitoral TSE : “-Abrindo a possibilidade de permitir que pessoas, em razão do trabalho, de dificuldades de locomoção ou por estarem privadas provisoriamente de liberdade, possam votar em seções eleitorais diferentes das que estão registradas”. Ou acrescentar esta outra possibilidade, talvez por sua meritória obra de secular preservação ambiental :”-Entre os eleitores que podem pedir a transferência temporária estão presos provisórios e adolescentes em unidades de internação.”
O Pantanal continua a expõr a despantaneirizacao forçada, sintonizados com os gritos dos arancuãs nas madrugadas que , a todos os pantaneiros soam como :”-Querovotá, querovotá. Querovotá, querovotá.”
Sempre será possível concretizar-se a esperança, de enfim sermos percebidos como vítimas de circunstâncias alheias a nossa vontade, por parte dos que impõem narrativas, inventando regras que o sistema adota tão cegamente…
Armando Arruda LacerdaPorto São Pedro