‘Pane geral’ em TV boxes piratas: como é a solução que promete combater caixinhas irregulares
Proposta premiada pela Anatel levaria aparelho pirata a baixar atualização que impede seu funcionamento. Agência disse que está conversando com grupo que sugeriu a medida, mas não confirmou se ela será implementada.

Por Victor Hugo Silva, g1
As TV boxes irregulares, que prometem acesso indevido a canais e serviços de streaming, podem ter uma “pane geral”. É o que propõe um dos vencedores do concurso criado para receber soluções para combater essas caixinhas, também conhecidas como IPTVs piratas.
No fim de setembro, o desenvolvedor de sistemas Daniel Lima e outros cinco colegas que trabalham na área da tecnologia da informação ganharam o concurso Hackathon TV Box, organizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O grupo apresentou uma proposta que inutiliza as caixinhas por meio de uma atualização forçada. A Anatel disse que está conversando com os participantes do concurso, mas não confirmou se vai implementar as ideias.
Hoje, a agência costuma pedir para as operadoras bloquearem servidores usados pelas caixinhas irregulares. Mas é como enxugar gelo: os endereços dos servidores na internet são atualizados, o que faz as caixinhas voltarem a funcionar.
Por isso, a ideia do grupo de Daniel foi ir além do que a Anatel já faz para limitar o uso de aparelhos sem autorização.
👉 FUNCIONA ASSIM: a pedido da Anatel, a operadora que receber a tentativa de uma TV box de abrir um servidor pirata pode direcionar o acesso para outro endereço, em que há um arquivo de atualização que é baixado automaticamente e pode impedir o funcionamento da caixinha.
“Conseguimos adicionar um código que a inutiliza totalmente”, disse Daniel. “Nossa solução utiliza recursos avançados de rede para possibilitar que o software da caixinha seja alterado, e o usuário seja impossibilitado de acessar conteúdo protegido”.
O método é possível porque são as operadoras (ou ISPs, sigla em inglês para “provedor de serviços de internet”) que administram a comunicação de rede.
“Como a Anatel controla os ISPs, ela consegue obrigá-los a implementar os recursos avançados de rede que tornam possível à caixinha receber um pacote alterado”, explicou Daniel.
“No momento em que a Anatel implementar a solução, vai ser uma pane geral na maioria das caixinhas irregulares que estão em uso”, disse Daniel.
Para evitar a inutilização de TV boxes regulares, é necessário definir padrões que afetem somente as caixinhas piratas, como as informações que o próprio aparelho envia sobre si na comunicação com a internet e os endereços que ele busca acessar.
O que falta para o plano sair do papel?
O concurso teve a participação de profissionais e estudantes de áreas como cibersegurança, rede e desenvolvimento. Além do grupo de Daniel, outras duas equipes foram premiadas pela Anatel.
Agora, com as propostas apresentadas, fica a cargo da própria Anatel implementar as soluções (ou parte delas). Isso porque trata-se de uma solução de larga escala, que exige a participação de órgãos públicos, disse Daniel.
“Para o combate à pirataria, é necessária uma parceria entre todos. É um assunto extremamente complexo, que gera bastante prejuízo financeiro para provedores de internet e provedores de conteúdo”.
A Anatel informou ao g1 que “tem considerado todos os conceitos e ideais que foram apresentados como melhoria nos processos internos e externos” e que tem feito reuniões com os participantes do hackathon para adaptar as propostas às metodologias já usadas pela agência (veja a nota abaixo).
O g1 questionou se as soluções vencedoras serão implementadas e quando isso aconteceria, mas não houve resposta da agência.